ATENAS - Milhares de pessoas se manifestaram de forma tranquila nesta quinta-feira no centro de Atenas para expressar a insatisfação com as medidas de austeridade, no dia em que é lembrada a repressão da revolta estudantil pela junta de coronéis em 1973.
Estudantes, militantes de esquerda e anarquistas tomaram a frente da passeata, que partiu sob a vigilância policial do bairro da Escola Politécnica, passou pela Praça Syntagma, onde se encontra o Parlamento, para terminar na embaixada americana.
Os tradicionais slogans do levante estudantil receberam um tom muito atual para denunciar "a junta dos bancos, a União Europeia e o FMI", como proclamava uma bandeira em clara alusão à política de austeridade imposta à Grécia por seus credores. "A junta não terminou em 1973, levante contra o governo UE-FMI " estava escrito no cortejo, que reuniu logo em seu início aproximadamente 5.000 pessoas, segundo a AFP.
Entre os manifestantes, Aristidis, um servidor de 38 anos, veio manifestar porque se sente "traído" pelo governo, que aceitou sem reclamar os sacrifícios exigidos pelos parceiros financeiros do país para resgatar as finanças gregas.
Marita, 23 anos, estudante da Escola Politécnica, estabelece um paralelo entre o passado e o presente: "o governo atual (de coalizão) não foi escolhido através de eleições. O que ele é se não uma junta?" "Nós os colocaremos para fora", promete outra bandeira. "É necessário que as pessoas desçam para as ruas todos os dias, mas eles têm medo", acrescentou Aristidis. "Contra a tirania, é preciso escolher entre a prisão e as armas", dizia outra bandeira de um grupo anarquista.
Alguns manifestantes também despejaram sua ira contra a participação da extrema direita no novo governo de coalizão socialista-conservador, introduzido na semana passada. Os manifestantes gritavam palavras de ordem como "abaixo o governo fascista".
O novo governo iniciou na quarta-feira as negociações com os bancos do mundo todo para reduzir uma parte de sua dívida, que permitirá baixar o endividamento público da Grécia a 120% de seu PIB até 2020, contra os 160% atuais.
Na sexta-feira, o governo apresentará ao Parlamento o orçamento de 2012, que exigirá uma série de sacrifícios à população. Os credores do país exigem que todos os partidos gregos membros da coalizão governamental se comprometam por escrito a respeitar o programa de austeridade.
Essa exigência, no entanto, tem sofrido a resistência do dirigente do partido de direita Nova Democracia, Antonis Samaras, que não deseja associar seu nome a políticas de rigor similares às aplicadas pelo governo socialista anterior.
A oposição de esquerda - o Partido Comunista (KKE) e a esquerda radical (Syriza) -, por sua vez, se recusam a formar parte da coalizão governamental e seus militantes participarão das manifestações junto aos tradicionais contingentes de estudantes.
Estimulados pelas pesquisas de opinião, os comunistas e os radicais pretendem unir à crescente oposição à política de austeridade e enfrentar assim o governo de coalizão.