O Brasil já vem crescendo menos do que os Estados Unidos e a Europa, regiões que estão no centro da crise que atormenta o mundo. Apesar de o governo insistir em um resultado positivo do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre deste ano, a maior parte dos analistas aposta em queda da atividade ; o tombo varia entre 0,1% e 0,3%. O resultado oficial será divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no início de dezembro.
Segundo o economista Carlos Thadeu Filho, da gestora de investimentos Franklin Templeton, de julho a setembro, a economia norte-americana avançou 0,6%. Já a da Europa deve ter crescido, no mesmo período, entre 0,2% e 0,3%. ;Ou seja, a desaceleração da economia brasileira foi muito forte. Além de o PIB ter caído no terceiro trimestre, não descarto a possibilidade de, nos últimos três meses do ano, o resultado ser novamente negativo. Se isso acontecer, o Brasil estará, tecnicamente, em recessão;, disse.
Na avaliação de Thadeu Filho, foi esse quadro desanimador que levou o Banco Central a liberar, na última sexta-feira, todas as amarras para o crédito de curto prazo (com vencimento em até 60 meses). O governo acredita que, reforçando o consumo das famílias neste fim de ano por meio do endividamento, compensará parte da retração dos investimentos produtivos e da fragilidade da indústria. ;A ordem da presidente Dilma Rousseff é fazer a economia voltar a funcionar. Para ela, não há a menor possibilidade de o país entrar em recessão;, afirmou um assessor do Palácio do Planalto.
Dilma já foi avisada pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, e pelo presidente do BC, Alexandre Tombini, de que a crise mundial se agravará nos próximos meses, mesmo com as mudanças de governo na Itália e na Grécia. Independentemente do comprometimento dos novos comandantes desses dois países ; Mario Monti e Lucas Papademos, respectivamente ; com o ajuste fiscal necessário para arrumar as finanças italianas e gregas, os resultados só aparecerão no longo prazo. Antes, portanto, a situação vai piorar ; e muito ;, com fortes impactos sobre o Brasil.
O governo está confiante de que, com os estímulos ao crédito agora, o aumento de 14% no salário mínimo em janeiro próximo e a retomada dos gastos públicos para investimentos em obras de infraestrutura, tanto o consumo quanto a produção retomarão o fôlego para garantir um crescimento próximo de 4% em 2012 (neste ano, a aposta em um número inferior a 3%). A presidente Dilma também está contando com a continuidade da redução da taxa básica de juros (Selic), de forma que as empresas se sintam mais confortáveis para ampliar as fábricas, garantir mais empregos e elevar os rendimentos dos trabalhadores.
Mesmo torcendo para um corte maior da Selic na última reunião deste ano do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, no fim deste mês, o Palácio do Planalto se contentará com um corte de 0,5 ponto, dos atuais 11,50% para 11%. No mercado financeiro, quase 45% dos investidores já dão como certa a redução de 0,75 ponto, com a taxa básica fechando 2011 em 10,75%. Os mesmos investidores admitem que a Selic poderá chegar ao fim do primeiro trimestre do próximo ano em um dígito, entre 9,5% e 9,75%.
4%
Alta do PIB estimada pelo Palácio do Planalto em 2012
10,75%
Taxa básica de juros projetada por parte do mercado para o fim deste ano