A um passo da ruptura, a Itália se vê desamparada pela União Europeia e pelos organismos internacionais que poderiam tirá-la do atoleiro. Ninguém tem dinheiro suficiente para fazer frente às necessidades do país, que detém 25% de toda a dívida do bloco econômico, uma montanha de 1,9 trilhão de euros. Quem poderia dar um alento aos italianos, o mercado financeiro, perdeu totalmente a confiança no país e está cobrando prêmios elevados para financiar o governo. Tanto que, na quarta-feira (9/11), os títulos da dívida italiana, com vencimento em 10 anos, fecharam com taxa recorde, 7,21% ao ano. Os de cinco anos tiveram desempenho ainda pior, terminando em 7,56% ; o que, segundo especialistas, é um claro sintoma de que o mercado está vendo risco iminente de um calote.
Nem a promessa de renúncia do polêmico primeiro-ministro, Silvio Berlusconi, foi suficiente para pôr freio à crise de solvência e de confiança que aflige o país e os analistas dão como certo e para breve um grito de socorro vindo da Itália. Portugal e Irlanda, por exemplo, quando viram o custo de suas dívidas chegar a 7% ao ano, foram obrigados a pedir ajuda ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e ao Banco Central Europeu (BCE) para não dar um calote. Os italianos garantem que aguentam até 8% antes de sucumbir, o que para o mercado não passa de discurso. ;Se eles suportam essa taxa, eu acredito em Papai Noel;, brincou um importante técnico do sistema financeiro. O Tesouro não teria condições de rolar nem mesmo a parcela da dívida que vence em 2012, cerca de 200 bilhões de euros.
Especialistas alertam que, se a situação não mudar, a Itália, que hoje é o terceiro maior mercado de títulos públicos do globo ; atrás de Japão e Estados Unidos ;, pode gerar problemas maiores do que os vistos após a falência do banco norte-americano de investimentos Lehman Brothers em 2008. ;Em um cenário no qual a Itália não consegue se salvar, teremos consequências iguais ou piores que as geradas pela quebra do Lehman Brothers;, frisou Luis Otávio de Souza Leal, economista-chefe do Arab Banking Corporation (ABC Brasil). De acordo com relatório do Banco Barclays, a Itália já pode ter passado do ponto de não retorno: ;A experiência histórica sugere que a dinâmica negativa do mercado que ameaça a Itália é muito difícil de ser quebrada;.
Sem se aproximar de solução alguma, o máximo que os líderes europeus conseguiram foi a intenção de renúncia de Berlusconi e quatro nomes para substituí-lo: Angelino Alfano (secretário-geral do Partido da Liberdade), Giuliano Amato (ex-primeiro-ministro), Mario Monti (economista) e Gianni Letta (subsecretário do atual gabinete). Entretanto, a troca é vista só como um movimento para tentar devolver a confiança do mercado, já que, na prática, na visão de analistas e autoridades, a economia italiana desmorona lentamente e arrasta o euro. ;Qualquer solução passa por um fortalecimento do FMI e do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF). Sem isso, as duas instituições ficam amarradas, sem recursos suficientes para salvar a Itália;, argumentou Leal.
O presidente italiano, Giorgio Napolitano, tenta manter o otimismo e acredita que a situação vai melhorar depois da aprovação da nova lei de estabilidade financeira e da saída de Berlusconi. ;Dentro de pouco tempo, ou um novo governo será formado, que pode tomar mais decisões necessárias com o apoio do parlamento, ou o parlamento será dissolvido e uma campanha eleitoral começará dentro de um curto espaço de tempo;, disse. A oposição tem pressa e quer as reformas aprovadas na segunda-feira.
Urgência
O primeiro-ministro Silvio Berlusconi confirmou ontem que renunciará após implementar reformas econômicas urgentes que a União Europeia exige da Itália, e defendeu que o país, em seguida, realize eleições antecipadas, nas quais ele não concorreria. ;Precisamos dar ao mundo um sinal urgente de que estamos levando as coisas a sério;, disse ele por telefone a um programa matinal da tevê italiana. Berlusconi anunciou sua saída na noite de terça-feira, após uma votação na Câmara dos Deputados deixar claro que ele havia perdido a maioria parlamentar.