Jornal Correio Braziliense

Economia

Com economia fragilizada, Itália dará adeus à era do bunga bunga

Marcada por escândalos sexuais e denúncias de corrupção, chegou ao fim a era Silvio Berlusconi na Itália, chamada popularmente de ;bunga bunga;, uma referência às festinhas promovidas pelo primeiro-ministro com prostitutas. O algoz de Berlusconi foi a grave crise enfrentada pela Europa, que pode atingir o seu ápice se a frágil economia italiana ruir. O ponto final para O Cavaleiro (Il Cavalieri) foi sacramentado ontem pelo Parlamento do país, que lhe imputou um resultado humilhante ao votar a Lei de Finanças ; uma série de medidas de austeridade para a redução do rombo das contas públicas. Ele obteve 308 votos a favor, oito a menos do mínimo que garantia a maioria absoluta.

Aos 75 anos, Berlusconi, que promete punir os ;oito traidores;, informou sua renúncia ao presidente da Itália, Giorgio Napolitano. O adeus ao governo será anunciado oficialmente até o próximo dia 18, prazo para a aprovação do pacote fiscal cobrado pela União Europeia (UE) e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), órgão que passou a monitorar as finanças da Itália, conforme acerto fechado com os líderes europeus na reunião do G-20 na semana passada. ;O mais importante é trabalhar pelo bem do país. Temos que nos preocupar com o fato de os mercados não acreditarem que a Itália será capaz de aprovar as medidas que a Europa exige;, disse o primeiro-ministro a uma de suas redes de TV.

A desconfiança em relação à capacidade de Berlusconi de tirar a Itália do caminho da falência levou os mercados a exigirem juros recordes para o financiamento da dívida do país: 6,8% ao ano. Essa taxa é considerada um marco. Quando os encargos chegaram a 7%, Portugal e Irlanda foram obrigados a pedir socorro internacional para não quebrarem. A dívida italiana totaliza US$ 2,6 trilhões, 120% do seu Produto Interno Bruto (PIB). O país tem a terceira maior economia da Zona do Euro (17% das riquezas do bloco) e está estagnada há uma década. Se for à bancarrota, levará toda a Europa junto.

Credibilidade
Levantamento dos analistas mostram que, em 2012, a Itália terá de refinanciar 58 bilhões de euros de sua dívida. Mas certamente essa operação seria dificultada se Berlusconi permanecesse no poder. Nas palavras da diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, a Itália ;padece de falta de credibilidade;. Tanto que o próprio ministro das Finanças do país, Giulio Tremonti, não se intimidou e disse ao chefe: ;Certo ou errado, o problema da Itália é você;. As dificuldades chegaram a tal ponto que o líder da Liga Norte, Umberto Bossi, principal aliado de Berlusconi, endossou a saída dele. ;Pedimos ao primeiro-ministro que desse um passo para o lado e renunciasse;, afirmou.

A possibilidade de renúncia de Berlusconi pairava sobre a Europa há dias. Os mercados só esperavam o pedido de demissão do primeiro-ministro da Grécia, George Papandreou, para pôr a Itália de vez na linha de tiro. Mesmo entre os líderes europeus o fim da era ;bunga bunga; era questão de dias. ;A situação na Itália é muito preocupante e a Europa está seguindo a situação atentamente;, disse o comissário de Assuntos Econômicos do bloco, Olli Rehn.

Com a desistência de Berlusconi, caberá ao presidente Napolitano decidir se dissolve o Parlamento e convoca eleições ou se nomeia um governo de coalizão. Um dos nomes mais citados para liderar um eventual governo técnico é o de Mario Monti, de 68 anos, atual presidente da Universidade Bocconi de Milão e presidente honorário do Bruegel, centro de pesquisa política e econômica europeia.


ROUBINI PROFETIZA O CAOS
O economista Nouriel Roubini, da Universidade de Nova York, afirmou ontem, em São Paulo, que os riscos de que a economia mundial mergulhe numa nova recessão são maiores do que as chances de a atividade se recuperar. Segundo ele, a possibilidade de agravamento dos problemas na Zona do Euro pode levar alguns países a deixar o bloco e lançar o mundo em uma recessão pior que a de 2008. Para Roubini, Europa, Reino Unido e Estados Unidos têm problemas fiscais sérios e é preciso encontrar formas de recuperar o crescimento, sem o qual a insegurança aumenta, eleva-se o desemprego e ampliam-se as tensões sociais e políticas, culminando com a queda de governos.