Assunção - Os países ibero-americanos encerraram neste sábado sua reunião de cúpula anual preocupados com a falta de ajuste da economia mundial e seu eventual efeito recessivo sobre a demanda por matérias-primas, que permitiu à América Latina crescer, ao contrário de Espanha e Portugal.
Os chefes de Estado e governo e representantes dos 22 países-membros discutiram o tema Transformação do Estado e Desenvolvimento em um contexto de amplo contraste. A América Latina está em crescimento, enquanto seus dois parceiros europeus enfrentam uma turbulência na zona do euro.
"O risco de que o crescimento da economia seja interrompido deve ser combatido com estímulos dos países com capacidade de recursos", como os emergentes e alguns europeus, afirmou o chefe de governo espanhol, o socialista José Luis Rodríguez Zapatero.
Durante o dia, que terminou com a assinatura de uma declaração de 55 pontos, vários líderes concordaram com o risco de que a crise acabe passando a fatura para a América Latina, que começa a sentir a desaceleração da atividade mundial.
"Na América Latina, existe um crescimento das economias. Isso deriva dos preços extraordinários das matérias-primas, mas é uma faca de dois gumes", advertiu o presidente mexicano, Felipe Calderón. "Estes anos de vacas gordas também podem terminar. Pode haver uma enorme crise de dependência tecnológica de países industrializados, o que pode prejudicar as Américas."
A América Latina, que cresceu em média 5% nos últimos cinco anos, sofrerá o maior impacto, por conta da queda da demanda na China, que, no entanto - segundo projeções da Cepal - irá ultrapassar a Europa como segundo maior parceiro da região até 2015.
"Sabemos que, se não acertarmos, isso pode ter um efeito muito negativo na economia mundial, e, consequentemente, na América Latina", indicou Zapatero. "Esperamos que estes acordos, somados aos do G-20 (que irá se reunir na semana que vem, na França), restaurem a confiança, que, definitivamente, é a chave para que a economia não fique estagnada, depois destes dois últimos meses, em que, novamente, os alarmes e sinais vermelhos foram colocados sobre a mesa."
O presidente do Chile, Sebastián Piñera, estimou que a solução para a crise europeia "exigirá muito tempo", e que o efeito sobre a América Latina será sentido. "Temos que estar atentos para enfrentar os déficits comerciais e econômicos. As grandes locomotivas econômicas já não são as mesmas."
"Se caem os preços das matérias-primas que a América Latina exporta, cai o nosso mercado exportador, derruba-se o financiamento, e, obviamente, isso tem um forte impacto sobre a região. Mas estamos muito melhor preparados", afirmou à AFP o presidente do Equador, Rafael Correa.
Em sua declaração final, os participantes da reunião reconheceram que a crise está gerando "ajustes profundos e readaptações, que colocam sob pressão as instituições, em todos os níveis". Não obstante a redução da atividade, comprometeram-se a "incentivar a criação de empregos dignos e criar políticas públicas voltadas para potencializar o crescimento econômico com inclusão social".
Foram incluídos na declaração temas como o fim do embargo americano a Cuba e a disputa entre Argentina e Grã-Bretanha pela soberania das Ilhas Malvinas.