BRASILIA - O Banco Central deverá reduzir na quarta-feira (19) a taxa básica de juros do país, atualmente em 12% ao ano, apesar da ameaça de inflação, uma decisão com a qual espera estimular a economia, mas que ameaça a credibilidade da instituição, afirmam analistas.
As grandes organizações empresariais e sindicais do país lançaram nesta terça-feira um "Movimento por um Brasil com Juros Baixos", com uma publicidade de página inteira nos principais jornais do país exigindo o corte da taxa que, asseguram, penaliza o crescimento em um momento em que os juros dos países ricos estão próximos de zero.
O Banco Central surpreendeu o mercado em agosto quando, em meio a uma escalada da inflação, interrompeu o ciclo de alta dos juros e reduziu a taxa básica em meio ponto percentual, de 12,5% para 12% ao ano, assegurando que a inflação retrocederia até o fim de 2011 e que a economia precisava de um impulso diante do impacto da crise nos países ricos.
Na quarta-feira, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) deverá decidir por um novo corte da taxa, avalia o mercado, apesar de a inflação continuar aumentando e em setembro ter alcançado seu maior nível em seis anos, com um acumulado de 7,3% em 12 meses.
A maioria dos analistas prevê um corte de 0,5 ponto, apesar de alguns não descartarem a possibilidade de o BC chegar a aprovar um corte de 0,75 ponto ou até de 1 ponto percentual. "Com um cenário internacional precário e incerto, a redução dos preços das commodities e uma projeção de crescimento do PIB (este ano) em torno de 3%, não há por que temer a inflação", justificam em sua mensagem a Força Sindical e a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
Os setores produtivos apoiam o discurso do governo, que defendeu abertamente uma redução das elevadas taxas de juros - consideradas as mais altas do mundo em termos reais -, situação que levou o mercado a questionar a autonomia do Banco Central.
O governo, assim como o BC, mostrou-se preocupado com a desaceleração de uma economia que cresceu 7,5% em 2010 e que deverá avançar modestos 3,5% este ano. "Neste momento de indefinição em relação à inflação e à crise, o correto seria manter a taxa no nível atual. Mas a decisão do Banco Central está se politizando, e isso afeta a credibilidade" da autoridade monetária, cuja máxima prioridade deveria ser o combate da inflação, disse à AFP o economista Roberto Troster.