A crise externa já está afetando o movimento do comércio e o Natal deste ano deve ser menos aquecido que em 2010. No ano passado, com o dólar a R$ 1,60, os comerciantes puderam garantir um bom estoque de produtos estrangeiros e tiveram o ;Natal dos importados;. Agora, porém, a alta da divisa pode estragar a festa. A moeda norte-americana subiu 18% somente em setembro e chegou a outubro variando entre R$ 1,80 e R$ 1,90. O resultado do que foi praticamente uma maxidesvalorização do real é que o estoque de produtos importados deve ser drasticamente reduzido.
Os empresários já estão refazendo suas contas. Até agora, eles acreditavam que as vendas de fim de ano deveriam crescer 7,5% em relação ao ano passado, mas, de acordo com pesquisa divulgada ontem pela Confederação Nacional do Comércio (CNC), a estimativa já caiu para 6%. Para o economista-chefe da entidade, Carlos Thadeu de Freitas Gomes, o corte reflete a crise global e a alta do dólar. A piora do cenário foi captada também pelo Índice de Confiança do Empresário do Comércio (ICEC), que permaneceu praticamente estagnado em setembro, com alta de apenas 0,1% ante o mês anterior.
Com os negócios girando mais lentamente, o setor deve também reduzir a oferta de vagas em todo o país e a previsão de contratar 140 mil trabalhadores temporários pelo setor neste fim de ano dificilmente será concretizada.
Para os varejistas, o Dia das Crianças, na semana que vem, será um termômetro para avaliar o comportamento do mercado em 2011. Mas em setembro, de acordo com o Indicador Serasa Experian de Atividade do Comércio, divulgado ontem, o movimento de consumidores nas lojas de todo o país já caiu 0,3% em comparação com o mês anterior. O indicador reflete as consultas feitas pelos comerciantes ao cadastro da Serasa e, de acordo com os economistas da instituição, o resultado indica que a atividade está em desaceleração.
Incerteza
;Em 2010, as vendas da loja foram bem altas e tivemos grandes lucros, mas agora o estoque de produtos importados está menor e por isso o fim de ano não será tão bom;, observou Eliane Evangelista da Silva, 27 anos, vendedora de uma loja de produtos eletrônicos. Kênio da Silva, 29, gerente de uma loja de calçados, também estima que o mercado será menos aquecido nesse Natal. ;Em setembro, faturamos 8% a mais do que no ano passado. Mas, em dezembro acredito que as vendas serão menores do que em 2010;, afirmou.
Já Derivan Gonçalves, 29 anos, gerente de uma loja de vestuário masculino, está otimista. Ele acredita que os clientes fiéis vão garantir boas vendas no
Natal e que a crise não vai afetar tanto os consumidores. ;Investi bastante na loja e estou com uma estimativa de faturamento de R$ 500 mil ante os R$ 300 mil do ano passado;, disse.
O ICEC revelou ainda um recuo de 0,3% no item que mede a confiança do empresariado na economia do país. Segundo o economista da CNC João Felipe Santoro Araújo, isso mostra que o comércio já sente o impacto da crise. Ele ressalta que as expectativas ainda são favoráveis, porém não tão fortes como ano passado. ;Com isso, 2011 será um ano mais fraco em termos de vendas e contratações temporárias.;