Jornal Correio Braziliense

Economia

Dólar sobe 18% em setembro; Bolsa de Valores de SP teve perdas de 7,38%

Moeda norte-americana supera, de longe, todos os ativos financeiros

Embalado por um forte movimento especulativo, o dólar voltou a subir ontem com força, encerrando as negociações cotado a R$ 1,88 para venda, o maior nível desde 5 de fevereiro do ano passado, com alta de 2,09%. Diante disso, a divisa norte-americana fechou setembro com valorização acumulada de 18%, a maior alta para um único mês nos últimos nove anos. No terceiro trimestre, o dólar subiu 20% ante o real. Além da disputa entre os investidores no mercado futuro de câmbio, a surpreendente arrancada refletiu todo o temor em relação ao futuro da Europa e dos Estados Unidos, que se debatem para não mergulhar na recessão.

Na avaliação de Marcio Cardoso, diretor da Título Corretora, a alta do dólar ontem já era esperada, por causa da formação da taxa de câmbio usada para o fechamento dos contratos futuros. Portanto, ele não descarta que os preços da moeda caiam nos próximos dias. A mesma avaliação foi feita por Ítalo dos Santos, gerente da mesa da Corretora Icap. Ele ressaltou, porém, que o comportamento da divisa dos Estados Unidos deverá acompanhar o cenário externo, no qual há o risco de uma iminente quebra de bancos europeus e de um calote da Grécia.

;O mercado está testando o Banco Central, porque sabe que o governo está bem preparado para conter ataques especulativos. Além das reservas internacionais, o BC tem outras cartas na manga, incluindo a zeragem do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), o que facilmente derrubaria o dólar;, disse Ítalo dos Santos.

Com a disparada dos últimos dias, o dólar fechou o mês no topo do ranking dos ativos financeiros. Enquanto a divisa norte-americana subiu 18%, os que preferiram as aplicações na Bolsa de Valores de São Paulo (BM) ; pior investimento no mês ; perderam 7,38%. O ouro apareceu em segundo lugar, com alta de 3,07%. Os fundos de renda fixa, destinado aos mais conservadores, apontaram ganho médio de 0,85%. Já os investimentos em Certificados de Depósito Bancário (CDBs) superiores a R$ 100 mil renderam 0,78% e as aplicações inferiores a esse valor, 0,61%. Os fundos DI pagaram 0,75% e a caderneta de poupança, 0,60%.

Fique ligado
Veja o rendimento das principais aplicações

Ativos - Valorização no mês
Dólar - 18%
Ouro - 3,07%
Fundos de renda fixa - 0,85%
CDBs (acima de R$ 100 mil) - 0,78%
Fundos DI - 0,75%
CDBs (abaixo de R$ 100 mil) - 0,61%
Poupança - 0,60%

Fonte: Mercado

Pior tombo desde 2008

O Ibovespa, índice que mede o desempenho das principais ações da Bolsa de Valores de São Paulo, seguiu o pessimismo dos mercados europeu e norte-americano e fechou o dia em queda de 1,99%. A bolsa norte-americana Dow Jones despencou um pouco mais, 2,16%. O principal índice das ações europeias caiu 1,6%. Como o Ibovespa, fechou o trimestre com a pior performance desde o final de 2008, com queda acumulada de 17,3%. O tombo da bolsa paulista de julho a setembro foi de 16,15%. O temor é o de que a economia global esteja estagnada, reforçado por dados fracos da indústria chinesa. O desempenho também foi afetado por preocupações com a crise de dívida na zona do euro e do receio de um calote da Grécia, que poderia levar ao fim da União Europeia.

O índice de montadoras de automóveis e o de mineradoras estiveram entre os de pior desempenho ontem, com baixas de 4,6% e 2 %, respectivamente. Esses setores também tiveram a pior performance ao longo do trimestre. No entender de Marcio Cardoso, diretor da Título Corretora, o cenário externo ruim e a desaceleração da economia interna provocaram a desconfiança dos investidores. ;Não há dinheiro disponível para risco. A visão continuará pessimista até haver uma mudança real nos rumos da economia mundial;, assinalou.

;Os fracos dados da indústria da China estão preocupando o mercado;, disse o diretor-geral da SVM Asset Management, Colin McLean, acrescentando que, qualquer revisão para baixo no crescimento chinês, vai atingir as ações de mineradoras, uma vez que os estoques vão crescer e adicionar pressão sobre os preços. ;Temos uma posição baixa em mineradoras há mais de um ano, cortamos a participação de importantes empresas do setor em nossa carteira desde julho e não estamos mudando nossa posição;, acrescentou.

A preocupação quanto à China teve origem na divulgação do índice HSBC do setor industrial ;que prevê as condições das empresas antes dos dados oficiais de produção; que ficou em 49,9 em setembro, mesma leitura de agosto. Números abaixo de 50 indicam contração na atividade manufatureira. Trata-se da maior série negativa desde a crise financeira de 2008, quando o índice ficou oito meses seguidos abaixo de 50. O receio é de que a segunda maior economia do mundo perca força e prejudique a recuperação econômica global.