A resposta do governo para evitar a recessão que pode chegar com a crise mundial, focada na Europa e nos Estados Unidos, está ancorada no aumento de gastos. A presidente Dilma Rousseff está convicta de que a desaceleração global cresce e vai pegar o Brasil em cheio, bem mais forte do que dizem os analistas, o que obrigará a abertura do cofre em 2012. Após uma semana de forte alta do dólar contra o real, o assunto será tratado amanhã cedo na reunião com os ministros da coordenação política no Palácio do Planalto.
A primeira arma do pacote anticrise soma R$ 25,6 bilhões, dinheiro separado da proposta orçamentária para o ano que vem ; os recursos foram descontados da meta de superavit primário, afrouxada de 3,1% para 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB).
O dinheiro vai para o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), carro-chefe dos investimentos em infraestrutura, mas poderá ser usado noutras frentes.
Somadas às medidas para enxugar o crédito e, sobretudo, à recente guinada na política de juros, além de um incipiente protecionismo comercial, a presidente confere os últimos detalhes de seu pacote antirrecessão. Os primeiros sinais dificuldades antevistas por Dilma vieram com os números oficiais do mercado de trabalho. De janeiro a agosto, criou-se no país 1,82 milhão de empregos com carteira assinada, uma queda de 16,8% sobre igual período de 2010, quando foram abertas 2,19 milhões de vagas. Mas o baque maior deverá vir da divulgação do balanço do PIB no terceiro semestre: a expectativa é de que o número fique próximo de zero ou até mesmo negativo.
Tendo a crise como maior incentivo à adoção de remédios desenvolvimentistas, alargou-se a estrada para que Guido Mantega (ministro da Fazenda) e Alexandre Tombini (presidente do Banco Central) adotem uma estratégia inspirada nas ideias do economista Luiz Gonzaga Belluzzo, amigo íntimo de Mantega e conselheiro de Dilma. A última reunião do BC que cortou 0,25 ponto percentual da taxa básica de juros (Selic) foi o marco zero da mudança.
;O cenário externo mudou para pior e o governo está agindo com pragmatismo para defender a economia do tsunami que se aproxima sobre todos;, define Belluzzo, mentor da nova política. Para ele, diante de situações externas anormais, o BC está fazendo sua obrigação de equilibrar combate à inflação com manutenção do crescimento. ;Não se trata de uma ciência exata, mas uma arte, em que são usados não apenas os juros, mas também a dosagem do crédito e outras medidas;, diz o economista ao Correio. Para Belluzzo, o governo deu um passo fundamental ao se posicionar contra a ;agressividade comercial chinesa; e em favor da indústria nacional e dos empregos no país.
Aos olhos do mentor de Dilma e Mantega, o PIB de 2011 deverá registrar expansão de 3% a 3,5%, bem diferente dos 7,5% do ano passado. ;Não podemos nos guiar pelo desempenho de um mês para definir o resto, mas fatores como a desaceleração da demanda da China precisam ser considerados;, sustenta. Na prática, as percepções de Belluzzo já vêm se materializando na forma das correções de rumos adotadas pelo governo desde o fim de 2010, quando o BC anunciou medidas macroprudenciais (restritivas) destinadas a enxugar o crédito e, por tabela, desaquecer a economia e desarmar a disparada da inflação.