Jornal Correio Braziliense

Economia

Diálogo de surdos entre emergentes e desenvolvidos no FMI sobre a crise

WASHINGTON - Países desenvolvidos e emergentes protagonizaram um diálogo de surdos neste sábado, no encerramento da Assembleia Bianual do Fundo Monetário Internacional (FMI) sobre uma solução para a instabilidade mundial.

Apenas um ponto registrou unanimidade: a gravidade da crise da dívida na Zona Euro, que pode torpedear um crescimento mundial ainda sólido graças aos países emergentes, e arrastar o mundo para uma segunda recessão.

Os dirigentes europeus em Washington descartaram a possibilidade de uma suspensão de pagamentos da Grécia, boato constante nos mercados, e pediram paciência a seus sócios do G20 (países ricos e emergentes). "Os problemas soberanos e bancários na Europa são atualmente o risco mais sério que enfrenta a economia mundial", afirmou o secretário do Tesouro americano, Timothy Geithner, ante o Comitê Financeiro e Monetário do FMI.

Apesar de os compromissos assumidos pelas nações membros da Eurozona nos últimos 18 meses terem sido "impressionantes", é preciso fazer mais, enfatizou. "Ainda é necessário adotar medidas para aumentar a efetividade desses compromissos, a fim de criar uma barreira para que o contágio não se estenda", acrescentou.

Geithner pediu aos governos europeus que trabalhem junto ao Banco Central Europeu a fim de mostrar um "compromisso inequívoco" para evitar que os problemas da dívida da Grécia, Irlanda e Portugal causem uma falência global.

Os rumores de uma próxima nova intervenção do Banco Central Europeu (BCE) para dar liquidez aos bancos da zona ajudaram nesta sexta-feira os bancos a fechar com leves altas. O preço do petróleo e de algumas matérias-primas começa a baixar de forma acentuada, o que também suscita preocupação em alguns países emergentes exportadores.

"Os países ricos já não podem gerenciar sozinhos os riscos da estabilidade econômica mundial", declarou o ministro da Fazenda do Brasil, Guido Mantega. "É responsabilidade dos dirigentes europeus garantir que os problemas da Zona Euro não se propaguem para fora de sua região", alertou ainda.

Os membros da zona monetária europeia acertaram, em 21 de julho passado, uma nova ajuda para a Grécia e uma ampliação de seu fundo de emergência que ainda deve ser aprovado pela maioria dos respectivos parlamentos. "Confiamos que todos os Estados membros da Zona Euro ratifiquem o acordo", declarou o comissário europeu de Assuntos Monetário, Olli Rehn.

Mantega também elogiou as recentes propostas do Estados Unidos, cujo governo quer que o Congresso aprove um amplo plano de luta contra o desemprego e de cortes de impostos avaliado em 447 bilhões de dólares.

A Alemanha criticou, no entanto, o plano de Obama e enfatizou que os déficits públicos como o americano também são a causa dos problemas no mundo. Mantega atacou a política de taxas de juros quase zero em quase todos os sócios desenvolvidos dos G20 (Estados Unidos, Zona Euro ou Japão).

Esse tipo de política em países cujas moeda é utilizada como reserva pelo resto do mundo, ou seja, os Estados Unidos, "fez pouco para apoiar sua recuperação econômica, mas causou consideráveis dores de cabeça para os mercados emergentes", explicou.