Jornal Correio Braziliense

Economia

Cresce preocupação no Uruguai com imposto brasileiro a veículos importados

MONTEVIDÉU - Os exportadores do Uruguai se mostraram preocupados nesta sexta-feira diante da alta de 30 pontos percentuais imposta pelo Brasil no imposto aos veículos importados, o que provocou a paralisação temporária de uma empresa do setor, enquanto o governo uruguaio assegura que Brasília mostrou-se "receptiva" em negociar uma forma de excluir o país vizinho dessa medida.

Para a União de Exportadores do Uruguai, o tributo imposto pelo Brasil implica "perder um mercado", e o setor aguarda ansiosamente os resultados das gestões das autoridades uruguaias para que a situação seja resolvida. "A União está muito preocupada porque isso significa perder um mercado, sendo necessárias não apenas medidas alternativas para ajudar as empresas, como para resgatar esse mercado", disse à AFP Teresa Aishemberg, secretária-executiva da associação.

Para Aishemberg, "o governo está trabalhando como tem que trabalhar". "Esperamos que isso possa ser solucionado", completou.

O chanceler uruguaio, Luis Almagro, reuniu-se com seu colega brasileiro Antonio Patriota em Nova York, onde é realizada a Assembleia Geral da ONU, para manifestar sua preocupação diante do aumento do imposto promovido pelo Brasil e pelos prejuízos "econômicos, comerciais e políticos que essa medida representa para o país".

Patriota "foi muito receptivo, despertamos sua sensibilidade e ficou acordado que seria feito um estudo de alternativas que possam solucionar e exonerar o Uruguai dessas medidas", disse Almagro, segundo o portal da Presidência uruguaia.

Almagro considerou que é provável que na semana que vem haja novidades sobre essa divergência. No entanto, o presidente uruguaio, José Mujica, confirmou a um veículo local que se não for possível um acordo, é possível que adiante uma viagem prevista para novembro ao Rio Grande do Sul para se reunir com a presidente Dilma Rousseff.

As exportações de autopeças ao Brasil, principal parceiro comercial do Uruguai, alcançaram 228 milhões de dólares no ano passado, segundo dados do Instituto Uruguai XXI. Mesmo assim, as exportações da indústria automobilística uruguaia ao Brasil representam 8% das vendas anuais a esse país, que foram de cerca de 1,5 bilhão de dólares em 2010.

O aumento do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) ao setor automotivo teve impacto imediato, e na quinta-feira a empresa Effa Motors anunciou o fechamento temporário de sua fábrica, o que implica a demissão de 400 funcionários.

[SAIBAMAIS]Para Aishemberg, além do problema pontual do setor automotor, as medidas protecionistas tomadas nos últimos meses pelos países vizinhos Argentina e Brasil poderão prejudicar permanentemente outros setores da indústria uruguaia. "O que veio para ficar é o Plano Brasil Maior", política industrial do governo federal lançada em agosto e, do lado argentino, um plano de substituição de importações, o que seguramente vai afetar outros setores como o têxtil, o madeireiro e o de biotecnologia", completou.

O governo uruguaio somaria às negociações bilaterais com Argentina e Brasil um pacote de medidas que incluem pré-financiamento e devolução de impostos de exportação, segundo veículos locais.