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Economia

Banco Central fracassa na tentativa de controlar a alta do dólar


O Banco Central bem que tentou, mas não conseguiu ontem impedir mais um dia de escalada dos preços do dólar. Logo na abertura da negociações, a moeda norte-americana saltou de R$ 1,86 para R$ 1,95, o que obrigou a autoridade monetária a anunciar um leilão de US$ 5,5 bilhões em contratos de swap cambial, nos quais aposta na queda da divisa dos Estados Unidos e o mercado, na alta dos juros. Num primeiro momento, a intervenção surtiu efeito, mas, poucas horas depois, o dólar já havia recuperado as forças para encerrar o dia valendo R$ 1,90 para venda, o nível mais elevado desde setembro. ;Infelizmente, a incerteza que vem de fora está superando qualquer tentativa de levar racionalidade aos investidores;, disse um técnico do BC. ;Mas não desistiremos. Vamos corrigir os exageros. Não há porque o dólar ficar acima de R$ 1,80;, acrescentou.

No mês, a escalada da moeda norte-americana alcançou valorização de 19,34% ; bem maior que a do ano, período em subiu 14,04%. A intervenção do BC no mercado falhou, segundo especialistas, porque não foi capaz de fazer frente ao pânico instalado nos mercados e à gigantesca aposta (de Us$ 20 bilhões) dos investidores estrangeiros contra o real. O clima de incerteza que ontem dominou os mercados foi ainda reflexo do pacote de estímulo à economia norte-americana de US$ 400 bilhões, anunciada pelo Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos EUA) na quarta-feira.

Estratégia
;Os investidores agiram no sentido contrário do que esperava a autoridade monetária. Estão recompondo intensamente seus portfólios e queimando ativos de maior risco;, observou Newton Rosa, economista-chefe da gestora de recursos Sul América Investimentos. Com essa estratégia, a compra de dólares disparou e, consequentemente, a cotação da moeda também. A leitura do mercado acerca do pacote anunciado pelo Fed foi de que o governo norte-americano está extremamente preocupado com o crescimento do país e receia que a atividade continue a patinar. Para os operadores do mercado, ficou ainda a sensação de que a medida anunciada é um ato de desespero.

A disparada do dólar acendeu o alerta nos gabinetes da equipe econômica do governo, que teme o aumento da inflação devido à escalada da moeda e deseja uma cotação de R$ 1,80 ; valor considerado neutro para a economia. A presidente Dilma Rousseff até saiu em defesa dos seus subordinados e afirmou que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, têm armas suficientes para segurar a cotação da divisa norte-americana. Entretanto, o primeiro tiro do governo não atingiu o alvo. O BC atacou no mercado futuro, mas os investidores deram as costas para a autoridade monetária e compraram só US$ 2,7 bilhões dos US$ 5,5 bilhões oferecidos.

;Por enquanto é preciso esperar para ver até onde essa cotação vai se manter, mas, se continuar assim, vai impactar na inflação;, avaliou Elson Teles, economista-chefe da gestora de recursos Máxima Asset Management. ;Sem dúvida, não veremos um impacto neutro sobre a economia;, avaliou. Roberto Piscitelli, professor de economia da Universidade de Brasília, lembrou ainda que a alta do dólar é sustentada também por filiais de multinacionais que têm remetido lucros às suas matrizes. ;Em alguns casos, isso ocorre até mesmo a pedido dos governos;, afirmou.

Tributação
Os especialistas concordam ainda que, no Brasil, a alta da cotação da divisa norte-americana foi superior à observada em outros países. Segundo eles, a tributação sobre as apostas contra o dólar, o ingresso de capital externo na bolsa e a renda fixa, além do aumento de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para importados, potencializou a escalada da moeda. ;Talvez seja o momento de reverter parte dessas medidas;, ponderou Rosa.

Outra preocupação do governo é com o endividamento externo das empresas brasileiras. Pelos cálculos do Banco Central, esse passivo chegou a US$ 94,9 bilhões em julho. Se o dólar sobe, a dívida cresce. Para a Consultoria Economatica, a alta de mais de 19% da moeda em setembro pode ser nociva para a rentabilidade dos negócios privados e pode corroer até 54,1% do lucro operacional das companhias. Somadas apenas as dívidas das empresas de capital aberto, excluída a Petrobras, a escalada do dólar em 21 dias aumentou o endividamento dessas companhias em R$ 13,7 bilhões.