Jornal Correio Braziliense

Economia

Endividados e temerosos, brasileiros põem o pé no freio na hora das compras

Atolados em dívidas e preocupados com os reflexos da crise econômica mundial, os brasileiros estão colocando o pé no freio na hora de fazer compras. Pesquisa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) revelou que, neste mês, a Intenção de Consumo das Famílias (ICF) recuou 0,7% em relação a agosto, após três altas consecutivas. Na avaliação de especialistas, o resultado reflete não apenas o temor de que o Brasil sofra com as turbulências internacionais, mas também o fato de o consumidor diminuir despesas agora para gastar em viagens e nas festividades de fim de ano.

;O ano de 2011 vem mostrando a moderação da demanda interna. Com a economia em desaceleração, as famílias estão mais cautelosas ao consumir;, explicou o economista Bruno Fernandes, da CNC. Ele destacou também o impacto da desaceleração do mercado de trabalho sobre a confiança do consumidor. Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, revelam uma diminuição no ritmo de criação de postos. Em agosto, foram abertas 190.446 vagas com carteira assinada ; uma queda de 36% ante as 299.415 contratações no mesmo mês de 2010.

Cuidado
Outro problema apontado pelos especialistas foi a diminuição da oferta de crédito ao consumidor. Com as medidas macroprudenciais anunciadas pelo Banco Central desde o fim do ano passado, o acesso a bens e serviços ficou mais restrito. Números do BC mostram ainda que a classe média compromete 25,8% dos seus rendimentos com o pagamento de dívidas, o que a está impedindo de encher o carrinho de compras. ;Diante de tudo o que vem ocorrendo, as famílias estão tomando mais cuidado. Os fatores internos hoje têm muito mais força que a crise internacional;, ressaltou Fernandes.

Apesar da desaceleração, as famílias estão mais otimistas em relação ao mesmo período do ano passado. De setembro de 2010 a setembro de 2011, o índice registrou alta de 0,6%. O crescimento foi puxado, sobretudo, pelos resultados do mercado de trabalho. Fernandes explicou que, a despeito do ritmo mais lento na criação de vagas, a taxa de desocupação ainda está no nível mais baixo (6%) da história. ;Quando observamos a variação anual, a ocupação e a renda das famílias ainda sustentam o consumo;, ponderou.