Apesar de reclamarem dos altos custos de produção no país, as grandes multinacionais do setor automotivo vêm aumentando desde 2008 as remessas de lucros e dividendos de suas filiais brasileiras para os caixas ainda combalidos das suas matrizes, sustentando uma média de US$ 4,1 bilhões por ano. Segundo o Banco Central (BC), de 2008, quando teve início a crise financeira internacional, até 2010, as remessas somaram US$ 12,4 bilhões, superando largamente os investimentos diretos de US$ 3,6 bilhões que elas fizeram no país nesse período, uma diferença favorável às matrizes de US$ 8,8 bilhões.
Apenas de janeiro a julho deste ano, as empresas do setor ; montadoras e fornecedoras de autopeças ; já mandaram US$ 3,17 bilhões para suas sedes, um quinto das remessas registradas por todas as companhias estrangeiras instaladas no Brasil. Em igual período do ano passado, o valor enviado somou US$ 2,6 bilhões. Em todo o ano de 2010, foram US$ 4 bilhões de remessas de lucros, quase dez vezes mais que os US$ 450 milhões investidos pelas corporações em suas subsidiárias no Brasil.
;Em vez de fazerem lobby para conseguir proteção de mercado, as montadoras deveriam abrir seus números, explicitando custos de produção, carga tributária e margens de lucros;, provoca Alcides Leite, professor da Trevisan Escola de Negócios. Para ele, as empresas deveriam reduzir seus ganhos e oferecer preços melhores aos consumidores brasileiros, que já pagam até o dobro pelo mesmo produto que em outras praças.
Caixa-preta
Só as quatro maiores do mercado brasileiro faturam perto de US$ 60 bilhões por ano. Sem qualquer preocupação de informar com clareza ao cidadão sobre os números de seus balanços locais ; ao contrário do que fazem nos seus países de origem ;, as empresas explicitam, com as vultosas remessas de lucro, a intenção de sanear as finanças das matrizes.
[SAIBAMAIS]O mercado automotivo brasileiro é maior que os da Alemanha e Itália, sedes da Volkswagen e Fiat, e também tem rendido bons lucros para as norte-americanas General Motors (GM) e Ford, que tiveram de recorrer à ajuda da Casa Branca para não quebrar em 2009. A Fiat, por sua vez, já deixou claro que a lucratividade da subsidiária brasileira tem tido papel decisivo nos seus negócios.
Metalúrgicos em greve
Trabalhadores de duas fábricas do Vale do Paraíba (SP) paralisaram ontem a produção. Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região, os funcionários interromperam a atividade por 24 horas na SadeFem e da Schrader Bridgeport, em Jacareí, para protestar contra as propostas salariais apresentadas pelas empresas. As paralisações ocorrem alternadamente entre as cerca de 900 fábricas da região. A categoria pede aumento salarial de 17,45%, ou 9,7 pontos percentuais de reajuste real. Os patrões oferecem 9 pontos. O pedido dos metalúrgicos está no mesmo patamar dos acordos fechados recentemente com a GM. Os associados do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC paulista discutem hoje às 18 horas novas propostas patronais, se houver, e podem deflagrar greve por tempo indeterminado, caso não haja acordo. Eles pedem 10% de reajuste, abono e benefícios sociais.