Mesmo depois do corte na taxa básica de juros (Selic), que passou de 12,50% para 12% ao ano, e das medidas para reduzir o fluxo de dólares para o Brasil, o país recebeu uma enxurrada de capital estrangeiro nos primeiros seis dias úteis de setembro. A diferença entre tudo o que saiu e entrou no mercado foi de US$ 8,1 bilhões ; montante 95,4% maior que o registrado em todo o mês de agosto. No acumulado do ano, US$ 67,9 bilhões desaguaram em solo brasileiro.
O desempenho tão expressivo do início de setembro foi puxado mais uma vez, como nos últimos três meses, pelo setor exportador, que tem aproveitado a alta da cotação do dólar frente ao real para repatriar recursos que estavam guardados no exterior. Nos primeiros dias do mês, o segmento trouxe para o país US$ 8,8 bilhões. As importações, na outra ponta, levaram para fora US$ 4,5 bilhões mas, ainda assim, a balança comercial deixou um saldo positivo de US$ 4,3 bilhões. O segmento financeiro, que contabiliza operações como remessas de lucros e investimentos, também registrou somas expressivas e colaborou com US$ 3,8 bilhões para o fluxo cambial.
Enxurrada
A despeito da montanha de recursos que migrou para o país neste início de mês, o Banco Central pouco interveio no mercado com o objetivo de segurar a cotação do dólar, tendo adquirido apenas US$ 214 milhões ; um volume 83,5% menor que o registrado nos primeiros seis dias úteis de agosto. Com o pequeno incremento nas compras, as reservas internacionais chegaram a US$ 352,7 bilhões.
Mesmo com a enxurrada de dólares, a cotação da moeda norte-americana seguiu tendência de alta. Ontem, a divisa teve a 10; elevação consecutiva, de 0,63%, e fechou o dia cotada a R$ 1,723 ; nível mais alto desde 29 de novembro de 2010. Foi, até agora, a maior sequência de aumentos desde janeiro de 1999, quando a divisa subiu por 11 dias seguidos. Apenas nas duas últimas semanas, o dólar se valorizou 8,50% frente ao real.
Tamanho ajuste deixou o BC a vontade para, ontem, pela primeira vez desde 21 de fevereiro, não realizar leilões de compra da moeda. A alta da cotação, segundo especialistas, se deve ao cenário de aversão ao risco. Os investidores elevaram intensamente a procura por dólares para se proteger da volatilidade imposta pela crise internacional.
O ex-ministro da Fazenda Rubens Ricupero fez críticas, ontem, ao que chamou de ;anarquia cambial; no mundo. O comentário foi feito durante evento do Fórum Nacional, na sede do Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES), no Rio de Janeiro.
Ele considerou um absurdo a ausência de mecanismos para coibir volatilidade excessiva das moedas. Ele ainda defendeu a fixação de um piso para o câmbio, decretado pela Suíça recentemente. ;Morei durante anos na Suíça, um país cauteloso. E estou dizendo que, para a Suíça ter decidido fixar o câmbio, é porque a situação está ruim.;