Jornal Correio Braziliense

Economia

Preços disparam no país. Em Brasília, tomate fica 101% mais caro

Os brasileiros estão entre a cruz e a espada na hora de escolher a cesta de produtos que vão à mesa. Com os consecutivos aumentos nos preços da carne, até mesmo os consumidores que viram nos peixes uma alternativa ficaram sem opção. Entre janeiro e agosto, o valor dos pescados subiu, em média, 8,69%, mais que o dobro da inflação medida no mesmo período pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), de 4,42%. Quem pensou em rechear o prato com frutas e legumes também encontrou dificuldades. Os preços do chuchu e do tomate, por exemplo, subiram 70,84% e 43,48%, respectivamente. No Distrito Federal, o tomate ficou 101% mais caro em agosto, na comparação com o mesmo mês do ano passado: o preço do quilo saltou de R$ 0,88 para R$ 1,77.

Em todo o país, outros campeões dos preços alto foram o pimentão (32,65%), o brócolis (29,54%), a manga (29,40%) e a cebola (28,96%). Alguns peixes também estão a peso de ouro. O quilo de piramutaba subiu 26,05% entre janeiro e agosto. O de pescadinha, 20,89%. A carestia obriga consumidores como a servidora pública Shirley Ferreira de Souza, 46 anos, a buscar alternativas. Ela compra os itens em quantidades menores até que surja uma oferta. ;Aumentou o preço de tudo, mas o nosso salário não acompanhou. Além das frutas e dos legumes, os produtos de limpeza estão pesando no bolso;, disse. Shirley explicou que outra opção é fugir dos supermercados conhecidos e fazer compras em mercadinhos perto de casa. ;Eles têm carne fresca e mais barata, além de produtos de marcas novas, que, geralmente, custam menos;, observou.

Quem aprova o comportamento de Shirley é o economista André Braz, da Fundação Getulio Vargas (FGV). Ele afirmou que os preços das frutas e dos legumes têm um comportamento sazonal. Ao menos uma vez por ano, sobem devido a questões climáticas. ;Nesse período de seca, a oferta de produtos naturais é
menor e o preço fica mais alto. É a lei da oferta e da procura. O conselho é para que se consumam itens da estação e os que aparecem nas promoções das feiras e dos supermercados;, disse.

O soldador Valdenildo Ferreira, 62 anos, operou um câncer de estômago e, por isso, se alimenta com uma dieta especial, baseada em frutas e legumes. Mas as remarcações frequentes desses produtos viraram um verdadeiro pesadelo para ele. ;Faço muita pesquisa e vou muito ao mercado, onde as frutas são mais baratas. Entre terça e quinta-feira, encontramos preços menores;, observou.

Leonardo da Silva, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) especializado em economia agrícola, ressaltou que os momentos de excessiva seca em regiões como o Centro-Oeste, e de chuva, como no Sul, prejudicam a produção. Além disso, ele atribuiu os aumentos à maior procura por alimentos no país, o que causa um descompasso entre oferta e demanda. ;Com mais renda, o brasileiro está comendo mais, e de tudo. A produção não tem conseguido acompanhar essa expansão;, ressaltou.

O professor observou que a inflação prejudica, principalmente, os mais pobres. A alimentação e o transporte consomem quase 70% do orçamento das famílias de baixa renda, que ganham até 2,5 salários mínimos. ;Com tudo mais caro, faltam opções. E são essas famílias que sofrem mais;, ressaltou. A costureira Luíza Francisco dos Santos, 72 anos, ganha um salário mínimo e sabe bem o malabarismo que precisa fazer para incluir frutas e legumes no prato. ;Às vezes, não consigo comprar. Mas, sempre que posso, levo esses produtos para casa;, afirmou.

Alívio distante
No Distrito Federal, os produtores também estão sendo castigados pela seca. Pedro de Araújo Lima, chefe do Departamento de Análise e Estatística das Centrais de Abastecimento (Ceasa), disse que o cultivo de itens como chuchu, quiabo e maracujá também foi prejudicado pela variação climática. ;No caso do chuchu, apenas entre julho e agosto, o preço do quilo passou de
R$ 0,77 para R$ 1,12;, observou. Dados da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento do DF revelam ainda que o preço do pimentão saltou 31,9% em agosto na comparação com o mesmo mês do ano passado, de R$ 1,19 para R$ 1,57.

Apesar das sucessivas altas, Silva, da UFRGS, não vê melhorias no horizonte tão cedo. ;No curto prazo, os preços devem se manter em alta. Talvez em seis meses ou um ano haja uma baixa;, disse. A visão de Silva não é isolada. O secretário executivo do Ministério da Agricultura e Pecuária, José Carlos Vaz, apostou que os preços dos produtos agrícolas só diminuirão no ano que vem. ;Agora, estamos na entressafra e é natural que haja aumento. Mas no início do ano, quando as colheitas começarem, voltarão a cair;, afirmou Vaz.

Enquanto isso, o brasileiro vai se virando como pode. ;O maracujá está muito caro, a R$ 4, e acho que vou levar o suco em caixa;, disse a secretária Márcia Francisca de Brito Rezende, 40 anos. Uma das opções é trocar a marca.

Estiagem severa
O período de seca severa está deixando os produtores em alerta. Em meio à quarta estiagem mais severa do Distrito Federal ; não chove na capital há 92 dias ;, eles estão sentindo o impacto do clima no resultado do mês. ;No caso do chuchu, por exemplo, o cultivo caiu 25%;, afirmou Ricardo Airton Krewer, presidente da Associação dos Produtos Rurais de Planaltina. O efeito se estende para outros itens. Entre agosto de 2010 e o mesmo mês deste ano, o preço do quiabo subiu 11,8%, de R$ 2,62 para R$ 2,93. O repolho encareceu 55,5%, de R$ 0,36 para R$ 0,56. No caso do melão, a alta foi de 18,2%, de R$ 2,20 para R$ 2,60.