Alta nos estoques, aumento da entrada de produtos estrangeiros no país e desvalorização da taxa de câmbio do primeiro semestre levarão as fábricas brasileiras a pisarem no freio até o fim do ano. Combinados, os ingredientes já são suficientes para comprometer o Natal do setor produtivo em 2011. Dados divulgados ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) revelam que, apesar da expansão da atividade em julho, os indicadores seguem em constante queda de desempenho. No primeiro semestre, dos 19 setores avaliados, 11 apresentaram piora. As maiores quedas atingiram os setores de confecções (-3,6%), papel e celulose (-2,4%) e máquinas e equipamentos (-1,6%).
;As atividades industriais indicam que parte relevante do crescimento da demanda interna é cada vez mais direcionada às importações, dada a contínua perda de competitividade da indústria brasileira e a persistência do câmbio valorizado;, resumiu Flávio Castelo Branco, gerente executivo da CNI. As indústrias operaram no limite de sua capacidade instalada, alcançando, em média, 82,1%. ;Esse arrefecimento se devia às medidas macroprudenciais (restritivas) e ao ciclo de alta de juros do primeiro semestre. Agora, a maior limitação virá do ambiente externo. Não teremos um fim de ano tão bom quanto o do ano passado. A indústria vai crescer, mas em um ritmo menor;, disse.
Turbulências
Na área automobilística, a maioria das montadoras teve que interromper a produção e conceder férias coletivas a aproximadamente 35 mil funcionários. Para Castelo Branco, o segundo semestre não será, necessariamente, marcado por uma crise, mas a indústria terá que se adequar à nova fase: ;Agora, é o momento de diminuir o ritmo da produção e aguardar como o mercado vai reagir nos próximos meses;.
Diante de uma crise internacional com os rumos incertos, a indústria brasileira deve sentir reflexos diretos. A aposta é em um cenário de turbulências e com crescimento menor da economia mundial. Os resultados não serão imediatos, mas, sim, de longo prazo. ;No fim de agosto, foram adotadas pelo Banco Central novas condições da política monetária, e os números divulgados refletem a realidade até julho. Ainda é cedo para prever novos números para o fim do ano;, afirmou Castelo Branco.
Empréstimos
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) reduziu seus desembolsos em 5% entre janeiro e julho deste ano para R$ 69,4 bilhões. O setor industrial absorveu R$ 22 bilhões e representou 32% das liberações. No setor agrário, os financiamentos somaram R$ 5,7 bilhões; e para o Comércio e Serviços foram destinados R$ 12,7 bilhões.
O BNDES reverteu ainda R$ 28,8 bilhões para o setor de infraestrutura, fazendo com que o segmento respondesse por 42% do total liberado. Apenas em julho, foram concedidos pela instituição, a todos os setores, R$ 13,6 bilhões, crescimento de 1,6% em relação ao mesmo mês do ano passado.