Jornal Correio Braziliense

Economia

Governo rechaça aumentos a policiais e categoria ameaça fazer greve

O vigoroso não ao reajuste salarial que os dirigentes das associações de delegados e de agentes da Polícia Federal receberam do Ministério do Planejamento escancarou a crise de comando e de prestígio em que a instituição está mergulhada. Depois de pelo menos cinco reuniões marcadas e canceladas em um mês, o secretário de Recursos Humanos do Planejamento, Duvanier Ferreira, encerrou as negociações, fechando as portas para qualquer reajuste neste ano e em 2012. O atual diretor-geral da PF, Leandro Daiello Coimbra, está em baixa no Palácio do Planalto e sua substituição é questão de tempo.

A avaliação da presidente Dilma Rousseff é de que a instituição está sem controle. Tanto que cogitou nomear um militar para a PF com a missão de botar ordem na casa. Ela expressou esse desejo no auge do desgaste gerado pela Operação Voucher, no início de agosto, que resultou na prisão de 36 pessoas, entre elas, o então secretário executivo do Ministério do Turismo, Frederico Costa da Silva. Pressionados pelos partidos aliados, a presidente e o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, ao qual a PF está subordinada, pediram a punição de membros da corporação responsáveis pela exposição à mídia dos presos algemados. Cardozo também reclamou de não ter sido avisado da operação que tinha membros do alto escalão do Turismo na mira.

As ameaças de intervenção de Dilma se amplificaram na PF depois de o Planejamento se negar a conceder reajustes aos servidores. A negativa foi vista como uma falta de prestígio e de descaso do governo com a corporação. Maiores defensores desse ponto de vista, os delegados ameaçam fazer greve, mas a própria categoria avalia que os únicos que realmente podem fazer barulho e chamar a atenção são os agentes, ao parar as atividades nos já caóticos aeroportos brasileiros. Os mais radicais têm sugerido que a PF pressione o governo com o estouro de operações de investigação contra cabeças graúdas da República.

Ânimos exaltados

Em notas, a Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF) rebateu as críticas do governo ao uso das algemas nos presos da Operação Voucher. A entidade também reclamou dos cortes no orçamento do órgão e da falta de reajuste salarial. Tais posicionamentos só serviram para inflamar os ânimos no Planalto, que não se conforma com a afronta da corporação.

A análise do governo é de que, no meio da batalha declarada pelos servidores da PF, está a eleição para a direção da Associação dos Delegados, marcada para o fim deste ano. Ao não conseguir os reajustes para seus associados, a atual diretoria da entidade ficou sem bandeira para garantir um novo mandato. Depois de muita insistência, o ministro da Justiça recebeu as lideranças sindicais no último dia 29 e prometeu alguns afagos, como a gratificação para a fixação de policiais nas fronteiras e a reestruturação de funções administrativas, de impacto financeiro baixo.

O Sindicato Nacional dos Delegados da PF (Sindepol) informou que a briga da entidade é pela instituição da Compensação Securitária por exercício de atividade de risco, prevista em proposta de emenda constitucional que tramita no Congresso, com a qual o governo já teria concordado em pagar.

Desprestígio é claro

A falta de interlocução entre a cúpula do governo e o diretor-geral da Polícia Federal, Leandro Coimbra, não vem de hoje. Em fevereiro último ele tentou e não conseguiu emplacar o delegado Sérgio Menezes para a Diretoria de Administração e Logística Policial, cargo estratégico na organização, pois dá suporte às operações deflagradas no país inteiro. Mas tanto o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, quanto a Casa Civil ignoraram o fato e não deram satisfação. O cargo está vago até hoje.

Concurso à vista
A Polícia Federal deve abrir 500 vagas neste ano por meio de concurso público e outras 500 em 2012. Foi o que o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, informou aos líderes sindicais. Ele não disse, porém, quantos postos serão destinados a delegados. A última seleção para a instituição foi em 2004. O curioso é que o ministro ouviu dos dirigentes sindicais que deveria ofertar poucas vagas para valorizar mais o cargo, a exemplo do que ocorre na magistratura e no Ministério Público.