Os brasileiros já estão arrumando as malas para comemorar as festas de fim de ano no exterior. Segundo a Associação Brasileira das Operadoras de Turismo (Braztoa), cerca de 70% dos pacotes ofertados no mercado já têm dono ; um movimento nunca observado antes. Há três anos, as vendas só se iniciavam em setembro. Para especialistas, o dólar barato e o aumento do poder aquisitivo são determinantes para a enorme disposição em viajar para além das fronteiras do país. Não à toa, os gastos lá for a são recorde. Apenas entre janeiro e julho, os brasileiros desembolsaram US$ 12,3 bilhões no exterior, o maior valor para o período desde 1947, quando o Banco Central passou a fazer esse tipo de levantamento.
Os gastos realizados até julho são 44,1% superiores aos de igual período do ano passado. As despesas de estrangeiros em solo brasileiro, por outro lado, têm sido mínimas, já que eles estão sofrendo mais com a crise mundial que atormenta, principalmente, os europeus e os norte-americanos. No acumulado do ano, eles gastaram a US$ 3,8 bilhões ; o que deixou um saldo negativo de US$ 8,5 bilhões na conta viagem, também o maior já registrado na história. ;As viagens estão muito associadas ao consumo e a sensação de melhora na renda;, explicou Túlio Maciel, chefe do Departamento Econômico do BC.
O professor Alcides Leite, da Trevisan Escola de Negócios, não tem dúvidas: tão cedo esse quadro não se reverterá. ;Os preços lá fora são até 50% menores do que no Brasil. Portanto, vale muito a pena tomar o avião e consumir no exterior;, afirmou. Para ele, o que se vê é uma combinação perfeita: o dólar está baixo comparado ao real e o poder de compra dos brasileiros se elevou bastante. ;Soma-se a isso as condições de pagamento interessantes para viagens internacionais, às vezes, até melhores do que as de passeios domésticos. Tudo isso tem feito o brasileiro viajar mais;, argumentou.
Dados divulgados recentemente pelo setor mostram que o turismo internacional está enchendo os bolsos das operadoras, que faturaram R$ 7,6 bilhões em 2014, quando quase 1,4 milhão de pessoas foram passear no exterior. ;O movimento está tão bom que conseguimos lançar os pacotes com até nove meses de antecedência;, comemorou Marco Ferraz. Segundo ele, os destinos mais procurados são os Estados Unidos ; a Flórida é o destino campeão, seguido por Nova York, Las Vegas e Califórnia. ;Se formos contar os brasileiros que atravessam a fronteira de carro, a Argentina é o destino mais comum;, observou.
Distorções
Para impulsionar as viagens, as companhias aéreas passaram a oferecer voos a partir de destinos diferentes de Rio de Janeiro e São Paulo. Salvador (BA), Recife (PE), Manaus (AM), Brasília (DF) e Belo Horizonte (MG) agora têm decolagens diretas para fora. ;Embora não aumentem a capacidade dos aeroportos, o setor descentralizou os pontos de saída para elevar o número de assentos;, afirmou o presidente da Braztoa.
Alcides Leite ressaltou, que, diante de tanta oferta e demanda, os preços das viagens internacionais e das domésticas já não apresentam grandes diferenças antigamente. ;Além disso, tem o atrativo de conhecer outro país;, disse. A depender do período do ano, os custos são praticamente os mesmos e, em alguns casos, pode sair até mais barato ir para o exterior ; ou seja, ir para Buenos Aires do que para Porto Seguro, na Bahia.
Cartão lidera despesas
Na ânsia de aproveitar os preços mais acessíveis no exterior, os brasileiros ignoraram as medidas do governo para reduzir os gastos internacionais com cartões de crédito. Em julho, as despesas por meio dessa modalidade de pagamento totalizaram US$ 1,2 bilhão ; o maior valor registrado desde 1992. Em abril, o Ministério da Fazenda aumentou o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para compras com cartões fora do país. O tributo passou de 2,38% para 6,38%.
PAGAMENTO FACILITADO
De olho na clientela cada vez maior que vai para o exterior, o banco Cruzeiro do Sul lançou ontem um cartão de viagens multimoeda. O Star Cash é um sistema de pagamento pré-pago, que pode ser recarregado em território nacional ou no exterior por meio da internet, na divisa desejada. ;A única tarifa cobrada é a de saque. Caso o cliente opte por utilizar apenas o cartão, não há encargos;, disse o presidente do Conselho de Administração da instituição, Luís Octávio Índio da Costa. Os mais conservadores, no entanto, ainda preferem levar os dólares e euros na carteira. A dica dos especialistas é verificar bem o valor da conversão do real para outras moedas e, assim, verificar qual o melhor instrumento para quitar as dívidas fora do país. Tudo, é claro, com o maior controle, para se evitar gastos exagerados, que, na volta ao Brasil, podem se transformar em dívidas monstruosas.