Jornal Correio Braziliense

Economia

Pânico domina os mercados diante do medo de quebra de bancos europeus

Os principais mercados do mundo derreteram, ontem, em uma nova rodada de pânico e fuga de investidores. Sem exceção, as principais bolsas dos Estados Unidos, da Europa, da Ásia e da América Latina fecharam no vermelho. No Brasil, o tombo foi de 3,52%, com o Ibovespa, principal índice de lucratividade da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), fechando nos 53.134 pontos ; a queda no ano passa dos 23%.

Tamanha onda de prejuízos foi patrocinada pelo medo de quebra dos bancos europeus, que estão atolados com títulos podres de países à beira do colapso, como a Grécia. O indicador que mede a cotação dos papéis das maiores instituições cedeu 6,7%. Também empurraram as bolsas ladeira abaixo as perspectivas de uma nova recessão global, previsão que ganhou mais força depois da divulgação de dados ruins da economia dos Estados Unidos.

O dia sombrio, como classificaram os analistas, mostrou que a atual crise está longe de uma solução, o que tem motivado a corrida de investidores por ativos considerados mais seguros, como o ouro, cotado a US$ 1.816 a onça (31,1 gramas). ;A situação é preocupante. O mundo, de fato, está em desaceleração e em risco de entrar em recessão;, alertou Carlos Kawall, economista-chefe do Banco Safra. As preocupações se acentuaram depois que o Banco Central Europeu divulgou que uma instituição financeira pediu empréstimo de mais de US$ 500 milhões para honrar compromissos nos EUA (veja texto abaixo).

Tantas informações negativas transformaram-se em perdas disseminadas mundo afora. Entre os mercados, o que mais sofreu foi o de Milão, na Itália. A Bolsa de Valores local fechou o dia como líder de perdas ao registrar queda de 6,15%. Frankfurt, na Alemanha, terminou o pregão com recuo de 5,82%, o maior desde novembro de 2008, o auge da crise provocada pela quebra do banco norte-americano Lehman Brothers. Os mercados acionários de Paris, Madri, Londres, Amsterdã, Zurique e Lisboa amargaram baixas superiores a 4%. ;O dia foi bem negativo para todos;, avaliou Kawall. Na Ásia, a Bolsa de Tóquio perdeu 1,25%, o pior resultado desde 15 de março devido à inquietação despertada pela alta de 0,05% do iene frente ao dólar.

No Brasil, o movimento financeiro da Bovespa foi de R$ 6,9 bilhões, montante 15,8% menor que a média de agosto. Na visão de Rodrigo Falcão, operador Corretora Icap, a queda das ações da Vale foi determinante para o resultado negativo do dia. Tomados por um temor de desaceleração na China e a expectativa de derretimento para os preço das commodities(produtos básicos com cotação internacional), os papéis da mineradora recuaram quase 5%. ;Os investidores acabaram influenciados por aquela velha crença de que os chineses puxam o consumo de commodities no mundo e qualquer coisa por lá afeta diretamente a Vale;, explicou. Entretanto, o maior tombo do dia ocorreu com os papéis do frigorífico Marfrig, que recuaram 8%.

Pessimismo
Nos Estados Unidos, o mercado absorveu com pessimismo o aumento de pedidos de seguro desemprego na semana passada. A expectativa era de 400 mil solicitações, mas o número divulgado foi de 408 mil. Além disso, a inflação de julho registrou alta de 0,5% enquanto os economistas esperavam 0,2%. Para piorar, o índice de atividade fabril, medido pelo Federal Reserve (Fed, Banco Central da Filadélfia), despencou para o menor nível desde março de 2009 e a venda de moradias usadas contrariou estimativas de alta e recuou 3,5 % entre junho e julho.

Com um cenário tão negativo para os norte-americanos, as principais bolsas do país ficaram no vermelho. O índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, recuou 3,68%, para 10.990 pontos. A Nasdaq, o mercado eletrônico, caiu 5,22%. O índice Standard & Poor;s 500 registrou desvalorização de 4,46%. ;Esses dados reforçam a tese dos mais pessimistas, que acreditam na possibilidade de um duplo mergulho (uma recessão seguida da outra);, afirmou Alexandra Almawi, economista da Corretora Lerosa Investimentos. ;Com tudo isso, as chances de uma recessão estão crescendo;, concluiu. Toda essa aversão influenciou o dólar, que subiu 0,96% e fechou o dia cotado a R$ 1,599 para venda.

Apesar da ameaça concreta de a economia global despencar e dos impactos disso sobre a produção e o consumo no Brasil, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) não pretende ampliar os desembolsos para o setor privado. Luciano Coutinho, presidente da instituição, também não cogita uma ajuda à Petrobras na captação de recursos para executar seu plano de investimentos. ;Não há necessidade de nada extraordinário, nenhum pacote. A perspectiva de crescimento dos Estados Unidos é medíocre, mas não desastrosa como se pensava antes. A possibilidade de rupturas nos dois blocos (EUA e Europa) foram afastadas;, disse. Os investidores estão, porém, longe de endossar tais palavras