Jornal Correio Braziliense

Economia

Funcionários públicos vâo às ruas contra a decisão do Ministério da Fazenda

O anúncio do ministro da Fazenda, Guido Mantega, de que aumentos salariais para o funcionalismo estão descartados por causa da crise financeira nos Estados Unidos e na Europa revoltou os servidores públicos. Inconformados com a inclusão da folha de pessoal na estratégia do governo para manter as despesas sob controle e enfrentar as turbulências externas, funcionários dos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário prometeram radicalizar caso a administração pública não atenda às reivindicações de reajuste salarial. O primeiro sinal foi dado ontem. Com faixas, apitos e vuvuzelas, ao menos 2,5 mil trabalhadores fizeram manifestações, ao longo de todo o dia, na Esplanada dos Ministérios.

Apesar do barulho, de concreto eles conquistaram bem pouco. Pela manhã, os servidores técnico-administrativos das universidades federais, que estão acampados na Esplanada desde terça-feira, foram recebidos pelo ministro da Educação, Fernando Haddad. Eles pediram a intervenção do ministro para que sejam reabertas as negociações com o governo federal. Desde que a greve começou, em 6 de junho, o Ministério do Planejamento se recusa a discutir a pauta da categoria sob o argumento de que os trabalhadores iniciaram o movimento sem esgotar as possibilidades de acordo. ;O governo diz estar tão preocupado com o deficit em tecnologia, mas não investe em educação. As universidades são responsáveis por 90% das pesquisas do país. Amanhã (hoje), vamos ficar de plantão na porta do Planejamento para conseguir uma reunião;, afirmou Bernadete Menezes, uma das coordenadoras do acampamento na Esplanada.

Já no período da tarde, cerca de 1,1 mil servidores das universidades federais fizeram uma passeata por toda a Esplanada dos Ministérios e, ao chegar ao Palácio do Planalto, se encontraram com outros 500 bombeiros e policiais que também protestavam. Os pedidos são comuns. Além de aumentos salariais, os trabalhadores querem melhores condições de trabalho e reestruturações na carreira. ;Há insensibilidade do governo Dilma Rousseff em relação à nossa demanda. Sabemos que existem recursos. Como é que o país tem dinheiro para oferecer isenção fiscal para a indústria de automóveis, mas não tem para os trabalhadores?;, questionou Harrua Leal Ayres, vice-presidente da Associação SOS Bombeiros.

Antes dos protestos na Esplanada, líderes do movimento em defesa da PEC 300, que estabelece um piso único para policiais militares e bombeiros em todo o Brasil, se reuniram com o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), para defender a criação de um fundo constitucional com recursos federais para custear os reajustes nos salários. A resposta, porém, não foi animadora. Após o encontro, Maia reclamou da pressão que os militares estão fazendo. Decidido a não colocar a matéria em pauta, o petista disse que a proposta ;não vai ser aprovada na marra; e que o sistema legislativo não funciona de acordo com as pressões exercidas pelas categorias.

Para o presidente da Câmara, não adianta os servidores fazerem acampamentos ou manifestações, já que o momento econômico mundial não permite ao Brasil aprovar propostas que aumentem as despesas e onerem as contas públicas. O enterro da PEC 300 foi anunciado ontem por Maia durante reunião com o presidente da Comissão de Segurança Pública, deputado Mendonça Prado (DEM-SE). O assunto foi tratado também na reunião da coordenação política na manhã de ontem com a presidente Dilma Rousseff, na qual Guido Mantega repetiu aos líderes da base aliada o discurso de que o momento não é apropriado para aumentar as despesas e que a proposta é considerada ;um risco; para as estratégias anticrise do governo.


Paralisação de um dia
Na esteira dos protestos dos trabalhadores contra a estratégia de contenção de gastos do governo, a Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef) avisou que não vai deixar barato. Na terça-feira, a categoria saiu mais uma vez de mãos vazias de uma reunião no Ministério do Planejamento. Os servidores aguardam uma proposta referente à extensão da tabela salarial da Lei n.; 12.277/2010, que concedeu aumento de até 78% a cinco cargos de nível superior. ;Vamos fazer uma paralisação nacional dia 15. Também vamos ter uma plenária dia 22 e um dos temas será um possível calendário de greve;, disse o secretário-geral da Condsef, Josemilton Costa.


Vigília por salários
Os servidores do Judiciário Federal e do Ministério Público da União fizeram uma vigília ontem à noite em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF) para defender a aprovação dos projetos de lei n.; 6.613/09 e n.; 6.697/09, que revisam os seus planos de cargos e salários. As propostas já foram aprovadas na Comissão de Trabalho e Serviço Público da Câmara e, agora, estão paradas na Comissão de Finanças, aguardando o fechamento de um acordo orçamentário para serem votadas. Os servidores do Judiciário e do MPU estão mobilizados desde 2009 pela reestruturação de suas carreiras. ;Queremos um reajuste de até 50% nos salários. A ideia é recompor as perdas acumuladas nos últimos três anos. Com esse discurso do governo de que não tem dinheiro, vamos intensificar o nosso movimento;, disse Ramiro López, coordenador da Federação Nacional dos Trabalhadores do Judiciário Federal e do MPU (Fenajufe).