Jornal Correio Braziliense

Economia

Mesmo com a economia em dificuldades, trabalhadores prometem greve

A redução da projeção de crescimento da economia anunciada ontem pelo Banco Central e as turbulências vividas nos Estados Unidos e em países da Europa vão aumentar o confronto entre patrões e empregados em todo o Brasil. Em pleno período de negociação salarial, dezenas de sindicatos, como os dos bancários, dos metalúrgicos e dos petroleiros, prometem radicalizar caso as empresas não concedam reajustes reais. Para eles, de nada valem os argumentos dos empresários para diminuir o seu poder de barganha. As categorias garantem que, se as companhias não cederem à pauta de reivindicações de mais de 15 milhões de trabalhadores no país e não oferecerem ganhos reais, a promessa de uma onda de greves vai se confirmar.

No último fim de semana, os petroleiros definiram que querem aumento real de 10%, revisão do plano de cargos e salários e melhores condições de trabalho, entre outras bandeiras. ;Os economistas conservadores têm a tese de que o aumento dos salários causa mais inflação. Se essa visão prevalecer, certamente o caminho será cruzar os braços;, avisou João Antônio de Moraes, coordenador da Federação Única dos Petroleiros (FUP).

Os bancários, no próximo dia 12, vão entregar à Federação Nacional dos Bancos um pedido de reajuste de 12,88%. Do total, 7,5% referem-se à reposição da inflação acumulada em um ano, e o restante, a um aumento real de 5,3%. Carlos Cordeiro, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro, argumenta que, mesmo se o ritmo de aumento do Produto Interno Bruto (PIB) diminuir, não há justificativa para os banqueiros imporem barreiras.

;O setor tem apresentado lucros expressivos. No ano passado, eles queriam repor apenas a inflação, porém concederam aumento real de 3,8%. Há sempre uma choradeira. Mas já sabemos como funciona e, se necessário, vamos fazer uma greve maior do que a dos anos anteriores;, afirmou. ;Se quisermos nos fortalecer para enfrentar a situação interna e o cenário externo, precisamos aumentar o poder de consumo da população;, completa Arthur Henrique, presidente da Central Única dos Trabalhadores.

Bom momento
A orientação da Força Sindical, que tem 1,4 mil entidades associadas, também é para que os trabalhadores parem as atividades caso não sejam atendidos. Conscientes dos bons ventos que sopram sobre o mercado ; no ano passado, foram criados 2,8 milhões de empregos ;, eles consideram que estão em um bom momento para negociar. ;Só vamos pedir menos se houver desemprego;, diz o secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves.

Fábio Bentes, economista da Confederação Nacional do Comércio, estima que a taxa de desemprego, hoje em 6,2%, deve fechar o ano abaixo de 6%. ;Não temos muita gente procurando emprego. E os trabalhadores vão usar isso para pressionar os empresários;, destaca. Com data-base em setembro e em novembro, os metalúrgicos de São Paulo devem enfrentar dificuldades na mesa de negociação. Ontem, a General Motors deu o primeiro sinal. A companhia anunciou férias a 300 funcionários da fábrica de São José dos Campos (SP) entre 22 de agosto e 4 de setembro.


Impacto
O mercado de trabalho sentiu os efeitos da crise financeira internacional de 2008. As consequências do abalo foram sentidas, principalmente, entre março e junho do ano seguinte, quando a taxa de desocupação chegou perto de 9%, ante 6,8% em dezembro de 2008. O aumento no índice de desemprego foi puxado por demissões na Vale e na Empresa Brasileira de Aeronáutica S.A. Para especialistas, as categorias devem se preparar para os efeitos da crise, que devem ser mais visíveis em 2012. ;Em 2011, teremos aumento do salário mínimo próximo a 14%. Em contrapartida, a economia também não deverá ter um crescimento extraordinário;, prevê Fábio Bentes, economista da Confederação Nacional do Comércio.