Jornal Correio Braziliense

Economia

Dívida dos EUA: veredito de agências é aguardado com apreensão

WASHINGTON - O veredito das três grandes agências de classificação de risco sobre o plano de redução do déficit dos Estados Unidos é esperado com certa apreensão em Washington e Wall Street, que temem perder a prestigiada nota "triplo A" para os títulos de sua dívida pública.

Os analistas da Standard and Poor;s, Moody;s e Fitch deverão indicar nos próximos dias ou semanas se, em vista das medidas adotadas pelo Congresso na terça-feira, os Estados Unidos permanecem entre os tomadores de crédito mais confiáveis do mundo.

A Moody;s deu na terça-feira uma primeira indicação pouco tranquilizadora, ao baixar de "estável" para "negativa" a perspectiva sobre a nota "AAA" que os Estados Unidos mantêm desde 1917.

Para Carmen Reinhart, economista do Peterson Institute de Washington, o acordo conseguido após semanas de negociações não impede que os Estados Unidos estejam "ainda expostos" à perspectiva de perder seu "triplo A".

Esta especialista na história da crise da dívida considerou na terça-feira como "muito pobre" o acordo votado pelo Congresso em relação ao que aspiram as agências de rating, "o que poderá ser, e provavelmente será, um fator para determinar uma queda da classificação".

Em julho, a Standard and Poor;s, a primeira agência a ter ameaçado reduzir a nota "AAA", considerou como um bom sinal a promessa feita em abril pelo presidente Barack Obama de reduzir em 4 trilhões de dólares em 10 anos o déficit do orçamento. A Moody;s afirmava que isso garantiria a manutenção da "AAA" com perspectiva "estável".

Mas o plano aprovado na terça-feira gerará 2,1 trilhões de dólares em reduções do orçamento, afirmou o Escritório de Orçamento do Congresso, órgão independente dos legisladores.

O acordo deverá ser completado com as propostas que devem ser apresentadas por uma comissão especial bipartidária até o fim de novembro. Mas as três agências de classificação advertiram que não aguardarão até esse momento para adotar uma decisão.

"Para os Estados Unidos, a humilhação de uma redução da classificação vinculada à sua dívida causaria danos psicológicos", advertiu nesta terça-feira a rede de informação financeira CNBC em seu site.

Win Thin, analista da casa Brown Brothers Harriman, afirmou nessa mesma emissora de TV que evitar a redução da classificação financeira não seria um passo fácil.

"As agências de classificação tinham um tom verdadeiramente firme nestas últimas semanas sobre uma redução da nota". Mas "de certa forma baixaram o tom, pois os Estados Unidos podem ter evitado o pior", completou Thin Antes de ser divulgado o anúncio da Moody;s.

Até o drama criado sobre a polêmica para subir o teto da dívida, os Estados Unidos nunca pensaram em deixar o clube de países "triplo A", o qual divide atualmente com Canadá, França, Alemanha, Áustria e Suécia.

O secretário do Tesouro, Timothy Geithner, já não parece tão seguro como há alguns meses que o país manterá essa prestigiada classificação. "Não sei. É difícil de dizer", respondeu na segunda-feira a um jornalista da emissora ABC que lhe perguntou se os duros debates entre os parlamentares não tinham tornado "mais provável" uma queda da nota das agências.

No entanto, os credores privados dos Estados Unidos, representados em um comitê que aconselha financeiramente o Tesouro, não acreditam em uma perda iminente da nota da dívida pública, informou o Tesouro nesta quarta-feira.

"Nenhum dos membros pensa que uma queda da nota da dívida seja iminente", informou, ao dar um resumo sobre uma reunião deste comitê realizada na terça-feira pela manhã.

A perda da nota "triplo A" dos Estados Unidos traria o perigo de provocar uma queda nas classificações de uma multidão de credores, dos órgãos públicos ou paraestatais como os gigantes imobiliários Fannie Mae e Freddie Mac, até as seguradoras, passando pelos Estados federais e de seus aliados no mundo.

Standard and Poor;s e Moody;s indicaram na terça-feira que previam também baixar a classificação atribuída aos títulos da dívida garantidos pelos Estados Unidos e que foram emitidos por Israel e Egito.

"A incerteza quanto aos efeitos sobre o mercado é alta", advertia nesta quinta-feira o banco Goldman Sachs.

Seus analistas apostavam em "uma queda dos mercados de ações, mas provavelmente moderada", e afetando em especial as ações, um "certo enfraquecimento do dólar e das compras de títulos de curto prazo do Tesouro em detrimento daqueles com vencimento de longo prazo".