Washington - O compromisso sobre o limite da dívida, alcançado no domingo entre a Casa Branca e os líderes parlamentares, carecia de apoio nesta segunda-feira (1/8) no Congresso, onde parlamentares céticos levantavam dúvidas sobre sua aprovação, afetando os mercados financeiros.
Dois altos assessores do partido Democrata disseram nesta segunda-feira que o Senado votará na terça-feira o projeto para ampliar o limite da dívida americana.
Os líderes dos dois partidos - Democrata e Republicano - no Senado trabalham em um acordo para facilitar os procedimentos na casa, e o voto final é esperado para terça-feira, disseram os assessores.
Isso pode fazer com que o voto final ocorra horas antes da meia-noite de terça-feira, quando vence o prazo para elevar o teto da dívida sem que os Estados Unidos caiam em default.
Os mercados tinham se mostrado inicialmente otimistas diante do anúncio do acordo, mas depois os ânimos caíram. Na bolsa de Frankfurt, o índice Dax voltou a ficar nesta segunda-feira abaixo da barreira dos 7.000 pontos, pela primeira vez desde março. Em Milão, a Bolsa fechou com uma queda de 3,87%.
O temor dos mercados era que o acordo não fosse aprovado ou que mesmo que fosse, não conseguisse evitar que a nota AAA da dívida americana fosse rebaixada. A possibilidade de "uma degradação no curto prazo da nota se mantém viva", escreveram analistas do Barclays Capital, que consideraram que o acordo é "simplesmente pôr curativo".
Uma degradação provocaria uma alta dos juros que os Estados Unidos pagam para se endividar, afetando portanto sua economia.
Democratas e republicanos discutem a adoção do texto, se for possível antes da meia-noite de terça-feira (01h00 de Brasília da quarta-feira).
Depois de ter insistido durante muito tempo em incluir no plano novas receitas fiscais, particularmente com impostos aos mais ricos, o presidente Barack Obama finalmente cedeu diante da resistência dos republicanos.
O acordo fechado no domingo não prevê alta de impostos, o que soa mal na ala democrata mais afastada da direita republicana.
"Esse acordo é um sanduíche de satã com açúcar por cima. Se levantarem o pão, não vão gostar do que vão ver dentro", disparou no Twitter o deputado Emanuel Cleaver, presidente do grupo de legisladores negros da câmara baixa.
A chefe dos democratas na Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, mostrou-se reservada no domingo, assegurando simplesmente que veria "como poderiam ajudar" na aprovação do plano.
Na outra ponta do espectro, o texto não agrada os parlamentares mais próximos do movimento conservador "Tea Party", que pedem cortes drásticos nos gastos do Estado e inclusive em alguns casos diretamente se opõem a subir o teto da dívida.
Uma delas é a deputada republicana Michelle Bachmann, que criticou o acordo por "gastar muito e não cortar suficiente". "Alguem deve dizer ;não;, e eu vou fazer isso", declarou.
Paralelamente, o vice-presidente americano, Joe Biden, disse ter "confiança" de que o Congresso aprovará o projeto.
Segundo um alto funcionário que pediu para não ser identificado, o acordo permite aumentar em 2,1 trilhões de dólares o teto da dívida - suficiente para chegar até 2013 - e realizar cortes de gastos de 2,5 trilhões em duas etapas.
Uma comissão integrada por republicanos e democratas em igual número terá posteriormente a tarefa de recomendar cortes de outros 1,5 trilhão para 23 de novembro, e o Congresso deverá aprová-los até 23 de dezembro.
Se o Congresso não votar até essa data, cortes no mesmo montante entrarão em vigor automaticamente em 2013, divididos equitativamente entre Defesa e outros ministérios.
A fonte da Casa Branca disse que a Previdência Social e o Medicare, o programa de saúde para idosos, não serão afetados pelos cortes automáticos. É sobre esse ponto que as negociações tinham se estagnado nos últimos dias.
Os republicanos obtiveram assim importantes cortes nos gastos, sem ceder em relação a uma alta de impostos aos setores mais ricos ou à supressão de vantagens fiscais, como a que possuem os proprietários de aviões destinados a negócios empresariais, que foi muito criticada pelo próprio Obama.
O presidente assegurou que o acordo vai levar os gastos federais a seu nível mais baixo em 60 anos, e se comprometeu a fazer com que isso não ocorra de forma "abrupta", em um momento em que o crescimento americano continua frágil (1,3%;) e o desemprego alto (9,2%).