O faturamento do mercado de produtos orgânicos cresce 40% no Brasil ao ano. Um em cada três supermercados do país vende produtos sem agrotóxicos e abastece os consumidores com hortaliças, legumes e frutas cultivados em 1,8 milhão de hectares. Ainda assim, uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelou, anteontem, que os brasileiros, sobretudo aqueles que ascenderam à classe média, comem muito mal. Mas melhorar a alimentação custa caro. Devido à falta de escala na produção, os preços continuam elevados. No Distrito Federal, paga-se no Plano Piloto até R$ 2,39 por um pé de alface sem adubo químico, enquanto no Gama a mesma hortaliça cultivada de forma convencional sai por R$ 0,50 ; uma diferença de 378%, revelou um levantamento do Correio.
A pesquisa mostrou ainda que o preço da rúcula sem agrotóxico chega a ser até 167,7% mais alto que o da convencional. O quilo da abobrinha orgânica, por exemplo, está 150,7% mais caro que o da cultivada com produtos químicos (veja quadro). Mas a Associação Brasileira de Orgânicos (BrasilBio) discorda de tamanha dispersão. Para a entidade, nos últimos cinco anos, a distância do custo entre produtos sem química e os tradicionais caiu de 70% para 30%. Mas essa relação varia conforme a época do ano e a região de produção. Em 2011, a expectativa é de que as vendas do setor cheguem a até R$ 960 milhões.
As redes varejistas apostam alto nesse mercado. ;Tudo voltará a ser orgânico como era há 100 anos;, defendeu Camila Sallaberry, gerente do SuperMaia, que tem expectativa de elevar a participação dos produtos sem agrotóxicos, as hortaliças especialmente, a 25% de suas vendas de hortifrutigranjeiros até o fim do ano. Os produtos sem adição de adubos químicos respondem por 20% das vendas totais de frutas, legumes e verduras do supermercado. ;Já registramos crescimento de 50% na venda de produtos orgânicos entre 2010 e 2011;, complementou a gerente de Marketing do supermercado, Flávia Michels.
Distribuição
As boas perspectivas também embalam os pequenos produtores. Valdir Manoel de Oliveira, 49 anos, cultiva frutas e verduras em Ceilândia e considera um excelente negócio trabalhar com agroecologia. ;Não tem coisa melhor do que produzir saúde;, afirmou o agricultor. A crença de Valdir encontra eco em um grupo cada vez maior de consumidores, como a arquivista Alraune Reinke da Paz, 38, que só compra de produtores conhecidos: ;Tenho criança em casa e busco esse tipo de alimentação para prevenir doenças. Alfaces orgânicas são maiores e duram mais tempo, além de terem sabor diferente;.
Os supermercados funcionam como os principais canais de distribuição dos orgânicos. A venda desse tipo de produto representa 2,5% do total da produção de hortifrutigranjeiros comercializados pela rede Pão de Açúcar, por exemplo, observou a gerente comercial Sandra Caires. A exemplo da empresa, os maiores varejistas do país classificam o público de Brasília como muito seleto e exigente, superando, inclusive, o de São Paulo em consumo per capita.
Cuidados
Mas é preciso muito cuidado na hora de comprar. O servidor aposentado Mauro Vaz de Melo, 69 anos, considera-se um consumidor experiente. Ele sugere algumas precauções, como verificar a procedência do produto. Para Mauro, o selo de certificação não é suficiente para determinar a qualidade. ;Às vezes, vejo selo de orgânico, mas acho que o Ministério da Agricultura não tem estrutura para fiscalizar. Ontem, comprei mamão e estava amargo. Parecia ser cultivado com agrotóxico. Tem uma feirinha perto de casa onde compro. Ele pode não ser muito grande nem muito bonito, mas tem que ter boa origem;, ensinou.