O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, aumentou ontem a pressão sobre o partido republicano para tentar romper o impasse nas negociações com o intuito de elevar o endividamento do governo. Em pronunciamento feito ontem à noite na TV, ele advertiu que a falta de um acordo no Congresso ameaça provocar uma ;crise profunda; na economia americana e mundial.
"Se continuarmos nesse caminho, nossa dívida vai causar problemas sérios à nossa economia", afirmou . Segundo ele, o crescimento do desemprego e alta nas taxas de juros seriam as primeiras consequências. "E não teremos dinheiro para criar empregos suficientes", acrescentou.
;Hoje estamos em um beco sem saída. Temos que aumentar o teto da dívida até a próxima terça-feira ou não poderemos pagar todas as nossas contas;, frisou Obama. ;Pela primeira vez na história nosso reting AAA (a nova do crédito americano) pode ser rebaixado. Podemos entrar em uma profunda crise econômica, causada exclusivamente por Washington.; O discurso de Obama provocou resposta imediata da oposição. Também usando a TV como plataforma, o presidente da Câmara, John Boehner, do Partido Republicano, acusou o presidente de criar uma atmosfera de crise preocupado apenas com a sua reeleição para um novo mandato na Casa Branca.
O fracasso nas negociações entre o governo democrata e a oposição aumentou a inquietação nos mercados ao redor do mundo. Em um informe sobre a situação da economia americana, o Fundo Monetário Internacional (FMI) também advertiu para os riscos da queda de braço. ;É claro que o limite da dívida federal deve ser elevado rapidamente para evitar um choque grave para a economia americana e para os mercados financeiros mundiais", afirmaram os economistas do FMI.
O prazo para se chegar a um entendimento sobre a elevação do teto legal da dívida, atualmente fixado em de US$ 14,3 trilhões é 2 de agosto. O governo afirma que, depois dessa data, não terá dinheiro para pagar todas os seus compromissos, como aposentadorias e salários de funcionários públicos. No limite, poderá suspender parte dos pagamentos de sua gigantesca dívida, o que poderia provocar perdas bilionárias para o sistema financeiro e lançar a economia global em uma nova recessão. Um calote americano afetaria principalmente a China, o maior credor, mas teria impacto também sobre o Brasil, quarto país na lista dos maiores portadores de títulos do Tesouro americano.
Os republicanos concordam com um aumento temporário do teto da dívida, condicionado a um corte substancial de US$ 1 trilhão nos gastos do governo. A Casa Branca propõe um aumento de US$ 2,3 trilhões no limite da dívida, e quer que ele seja válido até o início de 2013, quando terá início um novo mandato presidencial. Aceita ainda um corte de US$ 2,5 trilhões a ser alcançado em um período de 10 anos. Obama, no entanto, rejeita uma solução baseada apenas em redução de despesas. Para ele, é preciso também aumentar os impostos para diminuir o rombo no orçamento, que atinge cerca de US$ 1,5 trilhão por ano.
[SAIBAMAIS]"Não podemos reduzir nosso déficit apenas cortando gastos", reiterou Obama. Segundo ele, é preciso buscar uma solução ;equilibrada; e os contribuintes mais ricos devem pagar uma ;parte justa; aos cofres estatais. Diante do prazo cada vez menor e da pressão crescente para que seja encontrada uma saída, o presidente cancelou ontem várias reuniões destinadas a arrecadar fundos para sua campanha de reeleição para poder se dedicar às negociações no Congresso.
Aceno aos hispânicos
O presidente Barack Obama afirmou ontem que cumpre as "defeituosas" leis migratórias dos Estados Unidos da maneira mais humana possível, em um discurso diante da principal organização hispânica. "Eu fiz o juramento de respeitar as leis, mas isso não quer dizer que eu não conheça bem o sofrimento que as deportações causam." Obama, que recebeu grande parte do voto hispânico em 2008, vem sendo criticado pelos números inéditos de deportações de imigrantes ilegais, cerca de 800 mil nos últimos dois anos.