Os brasileiros estão com mais dificuldade para manter suas contas em dia. A inadimplência do consumidor registrou alta de 22,3% no primeiro semestre de 2011, na comparação com o mesmo período do ano anterior, mostraram os números da empresa de análise de crédito Serasa Experian, divulgados ontem. Foi o maior avanço do indicador em nove anos, desde 2002 ; um claro sinal da corrosão provocada pela inflação e pelos juros altos sobre o poder de compra da população, sobretudo dos mais pobres.
O maior número de pessoas em apuros na hora de honrar seus compromissos é apontado como um dos efeitos das medidas adotadas pelo governo para conter a alta dos preços, além do encarecimento do crédito e da elevação do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Segundo Luiz Rabi, economista da empresa, três fatores explicam a expansão do calote: o crescimento muito forte do endividamento; o avanço da inflação e o aumento das taxas de juros, cada vez mais caras. ;Estamos passando pelo momento mais crítico da inadimplência. A tendência é de que, no segundo semestre, tenhamos índices menores de pessoas com dívidas vencidas;, afirmou.
Remédio
A inadimplência cresceu nas comparações anuais e mensais. Em relação a maio, o número de devedores no varejo brasileiro subiu 7,9%. Na análise anual, aumentou 29,8%. O economista da Serasa lembra que o volume de devedores já está se expandindo há algum tempo, e as medidas restritivas adotadas pelo Banco Central confirmam que o problema preocupa as autoridades. ;Há um consenso que o remédio a ser aplicado nessa situação já foi dado, mas o efeito não é imediato;, observou Rabi.
A situação poderia estar ainda pior caso os níveis de pessoas trabalhando com carteira assinada estivessem menores. ;O emprego funciona como uma espécie de amortecedor para a inadimplência. Se tivéssemos taxa de desocupação maior, a situação seria mais preocupante;, disse. Na comparação com maio, em junho as dívidas de instituições bancárias subiram 8,1%, os débitos não bancários cresceram 5,4% e os calotes com cheques avançaram 18,9%.
Títulos protestados
Além de se depararem com sérias dificuldades para manter seus compromissos em dia, os brasileiros estão enfrentando problemas para pagar até as contas mais corriqueiras. De janeiro a junho, a dívida média com débitos de cartões e faturas de lojas, por exemplo, ficou em R$ 307,54, um pouco menor que em 2010. Mas o valor médio de títulos protestados ; dívidas cobradas e não pagas ; subiu de R$ 1.156,29 para R$ 1.328,50, na comparação com o ano passado.
DF puxa os preços
Das sete capitais que têm variação de preços pesquisada pela Fundação Getulio Vargas (FGV), Brasília é a cidade onde a inflação mais resiste em ceder. Pelas contas da instituição, apesar da queda do Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S), que registrou deflação de 0,11% na prévia de julho, foi no Distrito Federal que os preços mais se elevaram, com o custo de vida ficando 0,28% mais caro, ante a alta de 0,16% verificada na última semana de junho. De acordo com a FGV, os custos mais elevados das taxas de condomínios residenciais foram os principais responsáveis pela aceleração do indicador no DF.
Na primeira semana deste mês, os gastos com manutenção de edifícios e prédios cresceram 2,30%, contra 0,32% na última semana do mês passado. ;Provavelmente, foram reajustes relacionados com mão de obra, como empregados e porteiros, já que as tarifas públicas não sofreram grandes oscilações;, explicou André Braz, economista da FGV.
Aluguéis
O Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M), utilizado para reajustar a maioria dos contratos de aluguel, recuou 0,21% na primeira prévia de julho. Para o economista Salomão Quadros, da FGV, apesar das quedas verificadas, a tendência é de que haja uma reversão do quadro deflacionário até o fim do próximo mês. ;Não há motivo para que os preços continuem caindo;, avaliou. (FM)