Mesmo com as taxas de ocupação no país mantendo-se em níveis historicamente altos, conseguir o primeiro emprego continua sendo uma tarefa árdua ; a taxa de desocupação da população de 18 a 24 anos de idade é de 13,5%, mais que o dobro da média geral (6,4%). Adultos nas necessidades, ao concluir o ensino médio os jovens não possuem ainda o que garante a autonomia necessária à satisfação deles: dinheiro. Sem renda fixa própria, ao lado dos pais, eles precisam ter atenção para não estourarem o orçamento doméstico. Saber utilizar os recursos disponíveis pode ser a chave para um futuro promissor.
Aos 19 anos, Laura Rodrigues de Sousa estuda para prestar concurso público para o Judiciário. Os R$ 1.700 do cursinho preparatório foram pagos com a renda que obteve trabalhando em um shopping no último verão. Na época, conseguiu juntar R$ 2.500, com os quais consegue pagar até hoje as despesas pessoais, já que as da casa são custeadas pelos pais. ;Seria muito bom passar num concurso público, porque eu teria garantia de estabilidade e poderia planejar melhor o futuro;, afirma ela ; que é apaixonada por fotografia, ofício ao qual pretende dedicar-se quando tiver renda fixa. ;Quero investir em mim;, diz.
Laura conta que, como a prioridade são os estudos, consegue controlar bem os gastos: ;Não sou muito de balada e não gosto de pedir dinheiro aos meus pais;. Ainda assim, ela revela que, quando recebeu o primeiro salário, rendeu-se ao impulso e comprou um sapato e presentes de Natal. ;Eu nunca havia podido fazer isso;, lembra.
Para a estudante de publicidade Pâmella Cabral Barbosa, de 19 anos, a prioridade também é investir na carreira. Distribuir panfletos nas ruas nos fins de semana foi a forma que ela encontrou para assegurar uma renda extra no mês. É com esse dinheiro que ela banca as baladas e os lanches com os amigos. Mas Pâmella não perde o foco no futuro. Decidiu não ter emprego fixo fora de sua área para poder se dedicar aos estudos. ;O que eu quero mesmo é trabalhar com publicidade. Estou me concentrando em buscar estágio e cursos de aperfeiçoamento, como de inglês e design gráfico, que vão enriquecer meu currículo;, explica.
Enquanto o emprego fixo não aparece, o mais difícil para Pâmella é resistir à tentação das roupas. Nem mesmo a inflação do vestuário ; que no ano passado atingiu 7,5% e, em 2011, 1,42% apenas em maio ; a impede de ir às compras. ;Eu não sou de procurar liquidação. Quando gosto de uma roupa, quero aquela;, confessa. Mas é nessa fase da vida que o consumismo é mais arriscado, dizem especialistas. Comprar mais do que a renda permite significa o início de dívidas que podem virar uma bola de neve ; e ela inevitavelmente vai estourar no colo dos pais e comprometer o futuro.
Educação financeira
;O endividamento gera insatisfação, perda do emprego e relacionamentos conjugais conturbados;, alerta o presidente da Associação Brasileira de Educação Financeira (Abef), Edmilson Lyra. Pesquisas indicam que o problema começa antes, na infância, e, principalmente, na adolescência. O relatório The Future Report Teens, do grupo britânico The Future Laboratory, mostra que, nas famílias com jovens de 12 a 19 anos em casa, o gasto médio excede 5% da renda mensal. Um trabalho da Felisoni Consultores Associados mostrou ainda que, nas compras em supermercados, 51% dos pais declararam que gastam mais quando estão acompanhados dos filhos. No caso das mães, esse percentual é ainda mais alto: 66%.
A educação financeira deve começar cedo, para que os jovens aprendam a caminhar com as próprias pernas financeiramente. ;Os pais precisam mostrar o valor do dinheiro, recompensando os filhos mesmo que seja com R$ 1 quando dão banho no cachorro ou limpam o quintal. Essa é uma forma de ensinar que é trabalhando que se recebe. Não existe facilidade;, observa Lyra.
Foi assim que o hoje estudante de história da Universidade de Brasília (UnB) Thiego Fernandes Paula da Silva, 21 anos, aprendeu a gerenciar seus recursos. ;Na adolescência, recebia mesada e também por tarefas realizadas em casa, como arrumar o quarto e lavar o carro. Acho que, com isso, meus pais queriam dizer que eu era um bom filho;, reflete. Dessa forma, para conseguir ter os brinquedos preferidos, Thiego precisou juntar dinheiro. Hoje, ele busca poupar sempre que possível. ;Minha mãe paga as contas em casa e eu uso a pensão de R$ 400 do meu pai para pagar meus gastos pessoais. Quando comecei a dar aulas particulares, decidi economizar esse ganho, de R$ 200 ao mês;, conta.
Thiego usa um truque para poupar. ;Não saco dinheiro. Deixo tudo para comprar com o cartão, porque assim fica um pouco mais difícil gastar e consigo economizar;, ensina. Mas o estudante não se deixa entrar no rotativo ; pagamento menor que o total das compras. ;Ficar enrolado com cartão de crédito é furada. A gente precisa tomar cuidado;, reconhece. Lyra concorda: ;Na universidade, o estudante passa a ter uma vida social ativa e gasta mais. Se tiver um cartão e não souber utilizar, isso pode gerar endividamento;.
Ajudar a carreira
Especialista em finanças da MoneyFit, Antonio De Julio também recomenda que os jovens fujam das facilidades oferecidas pelo mercado. ;Esse público-alvo é filão de bancos, que oferecem contas universitárias, descontos de tarifas, crédito, mas talvez esse não seja o melhor momento para comprar produtos financeiros. O importante é conseguir juntar algum dinheiro;, avalia. Cuidados também devem ser adotados quando os jovens conseguem o primeiro emprego. ;Muitos ficam maravilhados com o salário e já compram um carro, entrando em financiamentos longos mesmo sem a certeza de que vão continuar trabalhando. É preciso ir devagar com as conquistas;, sugere De Julio.
Para os especialistas, a melhor forma de ajudar os filhos é investir na carreira deles, o que vai ajudá-los a ter autonomia financeira no futuro. O representante da MoneyFit alerta que os pais nunca devem dar o dinheiro só por dar. ;A gente erra muito por transferência. Um pai e uma mãe que passaram por dificuldades na vida podem querer dar tudo ao filho. Mas dessa forma eles não ensinam como construir um patrimônio;, acredita Lyra. ;Os pais não podem atuar como salva-vidas dos filhos cada vez que eles se endividam. A melhor coisa é o diálogo;, aponta De Julio.