Jornal Correio Braziliense

Economia

Mesmo procedimento, mesmo resultado: direção do FMI ainda é francesa

WASHINGTON - A Europa não teve nenhuma dificuldade para colocar um dos seus, desta vez a francesa Christine Lagarde, na direção do Fundo Monetário Internacional, utilizando o mesmo procedimento para chegar ao mesmo resultado.

A disputa pelo cargo de diretor-gerente do FMI, chegou ao fim na terça-feira com a vitória da ministra da Economia.

Dois dias depois do afastamento do antecessor - também francês - Dominique Strauss-Kahn, o conselho de administração do Fundo havia decidido eleger o sucessor por "consenso", o que invariavelmente leva um europeu à direção da instituição desde 1946. A União Europeia controla sete dos 24 cargos e consequentemente não há consenso possível sem ela.

A UE apresentou uma candidata inteligente e muito apreciada pelos Estados Unidos - que, junto com o Japão, é o país que tem mais votos no conselho do FMI - e que a apoiou como era previsto, ao invés do mexicano Agustin Carstens que permaneceu na disputa até o final, mas admitiu suas poucas chances.

"Os dados estão viciados", afirma Arvind Subramanian, ex-economista do Fundo.

"O sistema deve ser mais justo, de maneira que nenhum grupo de países tenha vantagem na disputa pelo cargo de diretor-gerente do FMI", diz Subramanian que propõe a redução dos votos europeus.

Bessma Momani, professor de economia internacional na Universidade de Waterloo (Canadá), acrescenta que a tarefa ainda foi facilitada pela falta de preparo de outros continentes.

"As economias emergentes não entraram na briga para conseguir a direção do FMI, apesar dos anos que têm passado reclamando da regra não escrita que determina que apenas europeus assumam a liderança da organização. Eles são os únicos responsáveis por não terem se unido em apoio a um candidato comum que os representasse", escreveu em um artigo.

Os países emergentes teriam a preferência, se a Europa tomasse a iniciativa de se afastar do FMI. No entanto, em 2011, não foi cumprida a promessa feita em 2007 pelo primeiro ministro de Luxemburgo Jean-Claude Juncker, que afirmou na época que "o próximo diretor não será certamente um europeu".

Segundo a coalizão por novas regras nas finanças mundiais, uma associação de economistas e militantes contra a globalização, "a nova diretora-gerente deve acelerar o ritmo pateticamente lento da reforma da direção do FMI".

Carstens propôs uma reforma para encerrar com a excessiva representação europeia no conselho administrativo (de sete a oito assentos para a UR, dependendo do ano, já que nem sempre conta com a Suíça).

Os Estados Unidos são favoráveis a uma redistribuição dos direitos de voto há muitos anos. Washington tentou mudar a situação em meados do ano passado, recusando-se a aceitar um conselho com 24 membros quando o estatuto prevê 20.

Então, a discussão foi adiada para 2012. Será papel de Lagarde convencê-los a aceitar a reforma.

Na última quinta-feira, Lagarde prometeu ao conselho de administração do Fundo "adaptar rapidamente a representação dos países no FMI (...) evoluindo para a atual realidade econômica".