O freio imposto pelo governo na atividade econômica, via restrição de crédito e aumento de juros, não foi o bastante para esfriar o mercado de trabalho. O vigor se traduziu na aceleração do rendimento médio dos trabalhadores para R$ 1.566,70 em maio. O valor é 10,5% maior do que o pago no mesmo mês de 2010 e 4% superior ao avanço da inflação no período. O incremento foi detectado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística nas seis regiões metropolitanas pesquisadas, das quais o Rio de Janeiro foi o destaque, com ampliação de 9,3%. Na comparação com abril, o rendimento real subiu 1,1%.
Os dados constam da Pesquisa Mensal do Emprego (PME) e, segundo o diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, Octavio de Barros, sinalizam que a tendência de queda da renda real, detectada no início do ano, foi revertida. ;A aceleração do rendimento mantém a percepção de que o mercado continua aquecido. Mas, ainda assim, as negociações salariais do segundo semestre ocorrerão em um momento de desaceleração econômica, limitando possíveis ganhos reais;, destacou. Na divisão por setores, os empregados da construção civil tiveram o maior acréscimo real em relação a 2010 (9,5% acima da inflação).
Evolução
A PME apontou um recorde no nível de ocupação da população em idade economicamente ativa. Segundo o IBGE, 53,6% das pessoas nessa faixa etária estão trabalhando, o melhor resultado para os meses de maio desde o início da pesquisa, em 2002. Nos cinco primeiros meses, a fatia foi de 53,3%, também a maior marca histórica. ;O nível da ocupação aponta que o mercado de trabalho não está dando passos atrás. Está devagar, mas indo em frente;, considerou o responsável pela PME, Cimar Azeredo.
Outro sinal de desempenho positivo em maio foi a manutenção da taxa de desemprego em 6,4%, seu menor nível histórico. O contingente saiu de 1,537 milhão de pessoas para 1,522 milhão, variação considerada estável pelo instituto. A falta de trabalho foi superior em Salvador (10,5%), seguida por Recife (6,8%) e São Paulo (6,7%).
Embora tenha se mostrado forte, o mercado deve se desenvolver de forma mais modesta no resto do ano, segundo avaliação de Aurélio Bicalho, economista do Itaú. ;A retirada de estímulos ao consumo, como a alta das taxas de juros, as medidas de contenção ao crédito e o ajuste dos gastos fiscais, deve contribuir para que o mercado de trabalho tenha uma expansão mais moderada;, ponderou.
Octávio de Barros chamou a atenção para os primeiros sinais de que o emprego deve se estabilizar a partir de agora, mas lembra que as condições atuais já são suficientes para dar ao Banco Central mais trabalho na contenção da inflação. Ele afirmou que os resultados de maio aumentaram a probabilidade de que o ajuste na taxa básica de juros (Selic) se estenda além da reunião marcada para julho. ;O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged, do Ministério do Trabalho), mostrou que a média trimestral de geração de vagas passou de 168,9 mil para 131,5 mil em maio. Trata-se de um patamar bastante elevado, mas menor do que o registrado há poucos meses;, observou.