Jornal Correio Braziliense

Economia

Cortar despesas e pagar toda a fatura do cartão ajudam a ajustar contas


Uma pessoa sem hábito de planejar as compras e obter crédito, seduzida pela facilidade de parcelamentos e inserida num mercado de trabalho em expansão. Enfim, um consumidor emergente. Esse é o retrato do brasileiro que foi às compras nos últimos três anos e hoje está atolado em dívidas, afirma Juliana Cantanhede, gerente de Contas Estratégicas da ZipCode, empresa especializada em análise de crédito e cobrança. Mesmo quem não está inadimplente já teve que cortar despesas básicas, como alimentos supérfluos e lazer, para não ficar no vermelho. Outros tentam renegociar dívidas.

;O ganho mensal de muitos está na conta certa de pagar empréstimos e a fatura do cartão de crédito;, diz Juliana. ;Antes, com a dificuldade de conseguir crédito, as pessoas planejavam mais e tinham consciência maior na hora de contrair dívidas. A partir do governo Lula, o incremento da formalidade do trabalho tornou as pessoas mais otimistas. A facilidade de crédito e os juros mais baixos foram o empurrão que faltava. Dois meses depois de empregados ou numa atividade mais bem remunerada, já estavam fazendo o carnê do carro novo.;

O agravante desse endividamento, avalia ela, é que a maior parte dos gastos não se destinou a investimentos que resultassem em renda no futuro, como imóveis ou especialização em alguma atividade, mas a consumo de bens que se deterioram ao longo do tempo ou perdem valor, como automóveis. Quando a economia começa a ter problemas, como foi a alta da inflação no início do ano, que passou a comer parte da renda, esse consumidor inexperiente, diz Juliana, torna-se facilmente inadimplente.

Vilão
As compras parceladas no cartão de crédito, mesmo sem juros, são empréstimos, mas o consumidor não percebe. ;O comércio oferece propostas tentadoras, e o consumidor não se contém. Chega a parcelar uma blusa em cinco vezes no cartão. Ele esquece que isso é uma dívida que dura meses;, lembra a gerente da ZipCode. A inadimplência no cartão de crédito é a mais alta entre as modalidades de crédito, de 25%. São cerca de R$ 30 bilhões em débitos engordados por juros médios de 10% ao mês.

Por isso, o primeiro passo para reorganizar o orçamento é deixar o cartão em casa. Para uma boa administração do caixa, é necessário acompanhar mensalmente as receitas e despesas. É importante fazer a programação do que foi realizado exatamente para poder detectar onde é possível cortar. Para ajudar o leitor, o Correio publica nesta página um modelo de planilha de gastos e rendimentos, sugerido pela Serasa Experian.

Além de planejar os itens que serão cortados, o consumidor com dívidas deve procurar os credores para renegociar uma forma de quitá-las. Segundo a Serasa, deve-se consolidá-las, transformando-as numa só parcela, para facilitar o pagamento. O ideal é obter um empréstimo, de juros mais baixos, que abrace todas os débitos com custo menor. Se não for possível, é melhor pagar primeiro os de juros mais altos.

As empresas de compra têm estratégias para facilitar essa quitação, conforme o perfil do devedor, mesmo no caso daquele que não tem margem para quitar a dívida, mas está disposto a dar um jeito. ;Para quem quer pagar, o mercado dá desconto ou mesmo oferece um novo parcelamento;, garante Juliana.