Jornal Correio Braziliense

Economia

Empresa BR Foods gasta R$ 10 milhões para ser aceita no Cade


Uma operação de guerra foi montada em Brasília nas últimas semanas. Mas, em vez de soldados e armas, a batalha envolveu advogados e papéis. Os defensores da Brasil Foods ; empresa criada após o ex-ministro do Desenvolvimento Luiz Fernando Furlan fechar a venda da Sadia para a Perdigão, de Nildemar Seeches, em maio de 2009 ; fizeram quatro visitas ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) em junho. As reuniões mobilizaram pelo menos 10 pessoas e custaram cerca de R$ 10 milhões para os cofres da companhia. O objetivo da missão era claro: ganhar tempo para convencer os membros do órgão antitruste de que a nova empresa alimentícia é fundamental para o mercado global. O primeiro resultado veio ontem, quando o conselheiro Ricardo Ruiz pediu adiamento do julgamento.

Os representantes da BR Foods se reuniram com integrantes do Cade em duas ocasiões. No primeiro encontro, estiveram presentes os conselheiros Ricardo Ruiz e Olavo Chinaglia. No dia seguinte, apenas Ruiz recebeu os advogados. A expectativa era de que as conversas pudessem convencer o plenário do Cade e encerrar o caso, que já está na autarquia há mais de um ano.

Mas o parecer contrário ao negócio, do relator Carlos Ragazzo, desanimou a empresa e fez com que ela perdesse cerca de 10% de seu valor de mercado, estimado atualmente em R$ 22,8 bilhões. Em seu voto, Ragazzo lembrou que Sadia e Perdigão são donas de mais da metade do mercado de alimentos processados no país e que alguns itens poderiam ter aumento de até 40% por falta de concorrência. Para amenizar os danos e tentar reverter o quadro, os advogados da empresa correram para agendar outros dois encontros, agora envolvendo também os conselheiros Alessandro Octaviani e Marcos Veríssimo. O último deles foi feito na noite de segunda-feira, às vésperas da retomada do julgamento.

A blitz valeu a pena. Após pedir vista do processo, Ruiz obteve, ontem, um novo adiamento. O assunto só voltará a ser tratado em duas semanas. Na saída da sessão, o vice-presidente de Assuntos Corporativos da BR Foods, Wilson Mello, disse que acredita em uma ;solução negociada; para o impasse. ;Sempre buscamos uma forma de pacificar a questão. Esse adiamento será importante para encontrar uma alternativa satisfatória, que não é interesse apenas da empresa, mas do conselho, do país e dos consumidores;, afirmou. As ações da companhia fecharam o dia com alta de 0,20%, resultado ainda longe de compensar a perda de 6,20% nos últimos sete dias.

;Cumprimos tudo o que nos foi pedido. No momento, precisamos de tranquilidade e tempo, para poder mostrar aos demais conselheiros nossos argumentos;, disse Mello. O presidente do Cade, Fernando Furlan, se declarou impedido de votar, por ser primo de Luiz Fernando Furlan, principal nome do Conselho Administrativo da BR Foods. O conselheiro Elvino Mendonça preferiu não votar porque participou do processo quando ainda fazia parte da Secretaria de Acompanhamento Econômico (Seae), órgão do Ministério da Fazenda que dá parecer ao Cade. Com a negativa de Ragazzo, os advogados da empresa terão que conquistar três dos quatro conselheiros que ainda não votaram.

A Seae propôs dois caminhos para validar o negócio. O primeiro envolveria a venda de ativos e de uma das marcas, Sadia ou Perdigão. A empresa que adquirisse um desses nomes poderia se aproveitar do prestígio e da popularidade entre os consumidores por pelo menos cinco anos. O acesso a pontos de venda, estruturas logísticas e fornecedores também seria facilitado. Se a BR Foods quiser manter os dois nomes principais, outras pequenas empresas do grupo precisariam ser passadas adiante, como Batavo, Rezende, Confiança, Wilson e Escolha Saudável.

Na torcida
As empresas de menor porte torcem para que o Cade rejeite a fusão. Neivor Canton, presidente da Cooperativa Central Oeste Catarinense Aurora, está apreensivo. ;Nós crescemos com dificuldade. Agora, teremos que enfrentar um gigante no setor;, afirmou. Ele não é contrário à fusão, desde que o mercado interno não seja prejudicado. ;Será muito bom se essa empresa tiver atuação no exterior, mas não existe lei que proíba sua participação no Brasil, o que vai acabar com as pequenas empresas.;