Jornal Correio Braziliense

Economia

Economia começa a sentir o impacto das medidas restritivas adotadas pelo BC

Mas os analistas têm dúvidas sobre se isso será suficiente para reduzir a inflação ao centro da meta de 4,5% em 2012



O Banco Central puxou as rédeas da economia e o país respondeu. Num efeito dominó, neste segundo trimestre, o nível de atividade de cada setor começou a desacelerar. Primeiro, o crédito encareceu 6,21 pontos percentuais. Depois, o consumidor passou a comprar menos: na comparação entre março e abril, as vendas no varejo encolheram 0,2% ; o primeiro recuo em 11 meses.

Os estoques se elevaram na indústria e, ao mesmo tempo, a produção diminuiu. O movimento nas estradas com pedágio retrocedeu 1,4% em maio, com menos caminhões de carga. E os indicadores que evidenciam o ritmo mais lento não param. A dúvida dos economistas, porém, é se esse freio será suficiente para levar a inflação ao centro da meta de 4,5% ao fim de 2012.

Outra prova de que a roda da economia está girando mais devagar é o consumo de energia, que caiu 2% no mês passado, num reflexo da parada na atividade industrial. As vendas de papelão ondulado para as indústrias em abril, um importante indicador de aquecimento, ficaram 5,91% abaixo das registradas em março.

O economista-chefe da Prosper Corretora, Fernando Montero, considera que os dados caminham para um panorama inflacionário mais ;benigno;. Mas, ainda assim, ele faz ressalvas.

;O cenário de convergência da inflação começa a se mostrar nos dados de consumo e a se refletir na atividade, mas continua longe do adequado;, ponderou.

Para o Itaú Unibanco, não há dúvida: a atividade está arrefecendo. Aurélio Bicalho, economista da instituição, avalia que o país crescerá de forma mais moderada e projeta, para 2011, uma taxa de 3,6% para o Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas geradas no ano). No ano passado, ela foi de 7,5%. ;Baseado em um conjunto amplo de dados que já mostram alguma perda de fôlego do crescimento e em fundamentos de demanda, acreditamos que a atividade econômica já está em trajetória de desaceleração, e que esse processo tende a se intensificar no segundo semestre;, afirmou.

Perigo
O economista-chefe do banco ABC Brasil, Luís Otávio de Souza Leal, é cauteloso. ;Sem dúvida, está havendo uma arrefecimento, mas esses números antecedentes só são confiáveis se não os tomarmos como definitivos;, observou. ;O perigo ainda vem do mercado de trabalho, especialmente dos salários. Isso vai determinar a velocidade de convergência da atividade econômica. Os dissídios coletivos no segundo semestre vão impactar a inflação deste ano e a de 2012.; Para conter o crédito e o consumo, o BC já elevou os juros básicos quatro vezes, de 10,75% ao ano para 12,25%.

Emprego industrial cai 0,1%

Gustavo Henrique Braga


A desaceleração da economia já começa a ter efeitos sobre o emprego industrial. Fatores como a elevação dos juros, a contenção do crédito e o câmbio valorizado levaram o índice que mede a ocupação no setor a cair 0,1% em abril, na comparação com o mês anterior, conforme dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O indicador do número de horas pagas também ficou negativo (-0,4%). Para
piorar, o valor da folha de pagamento real encolheu 0,8%.

Na avaliação de André Macedo, gerente da pesquisa, o real valorizado prejudicou especialmente o desempenho de setores como o de calçados e têxtil, por serem sensíveis à concorrência com os importados.

;O desempenho do emprego na indústria está diretamente relacionado ao consumo e à produção, que apresentou queda de 2,1% em abril;, disse. Para ele, após um primeiro trimestre forte, o setor começou a sentir os efeitos das medidas de contenção. O economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Rogério César de Souza, teme que demissões ocorram nos próximos meses.

;Desde agosto do ano passado, o emprego industrial vem em ritmo de estagnação. Até o momento, prevaleceu a confiança do empresariado de uma retomada da demanda, evitando os custos de demissões e recontratações em curto espaço de tempo. Mas a queda de 2,1% na produção em abril abalou essas expectativas e as empresas devem revisar os investimentos para baixo;, ponderou.

Apesar da desaceleração, quando considerada a comparação com abril de 2010, a ocupação na indústria cresceu 1,7%. No ano, a taxa acumula alta de 2,4%. Em relação ao quarto mês de 2010, o valor da folha de pagamento real cresceu 4,7% ; 6,1% no ano. As contribuições positivas mais relevantes vieram de metalurgia básica (8,3%), meios de transporte (8,1%) e produtos de metal (5,6%).