Jornal Correio Braziliense

Economia

Economista recomenda uso de redes sociais na luta contra a inflação

Na guerra contra a inflação, a população deve lançar mão de armas como as redes sociais na internet, para divulgar os locais onde podem ser encontrados os melhores preços de bens e serviços, e denunciar abusos. A recomendação é da economista Cornélia Nogueira, do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

Cornélia discorda da avaliação da equipe econômica do governo, segundo a qual o pior já passou e a tendência agora é de queda nos preços. ;Tenho a impressão que a coisa não está tão tranquila, não. No ano passado, nesta época, a inflação estava muito baixa. Neste ano, não vai ser fácil chegar aos patamares de maio e junho passados.; Para a economista, a curva no gráfico, que mostra a tendência nas taxas de inflação anualizada, ainda demorará um pouco mais para cair. Ela acredita que os combustíveis, considerados os vilões do momento, poderão ajudar a reduzir os índices de inflação, mas ressaltou que, por enquanto, os preços estão altos demais.

A população deve se proteger e pechinchar, o mais que puder, na hora de contratar qualquer tipo de serviço, aconselha. ;É importante não aceitar o primeiro preço que é dado, pechinchar e questionar o porquê do aumento. Isso deve ser feito no cabeleireiro, na manicure e em vários lugares, sem ter vergonha de questionar.;

Para Cornélia, o trabalhador que almoça fora de casa , por exemplo, pode encontrar saídas como trocar de restaurante. Alimentação fora do domicílio foi um item que aumentou muito nos últimos 12 meses, com 13,4% ante uma inflação de quase a metade. Só este ano, lembrou a economista, esse item já aumentou 4,83% ante uma inflação de 3,44%. No caso da alimentação, pode-se trocar o restaurante habitual por outro com preços mais em conta. ;Se eles [restaurantes] perdem freguesia, automaticamente diminuem o ritmo de aumento, pelo menos.;

No caso de compra de bens, porém, Cornélia diz que os consumidores encontram mais dificuldade, principalmente nas redes de supermercados e lojas de departamentos. ;Lá, não existem descontos e não há com quem reclamar, a não ser com o bispo, não é?;, ironizou.

Recorrer às redes sociais na internet passa, então, a ser importante, porque elas servem para denunciar abusos de preço e até alguns artifícios, como redução no volume dentro de uma mesma embalagem de produto para induzir o consumidor a ;pagar mais por menos;, o que, na prática, também é inflacionar, destaca a economista. ;As pessoas podem usar as redes sociais na internet para denunciar abusos de preço, mudanças nas embalagens, sugerir marcas e produtos alternativos com preços menores.;

Por meio das redes sociais, os consumidores também podem indicar para outros consumidores as localidades que têm preços justos, bem como aqueles que têm preços abusivos, acrescenta Cornélia..

Sobre a manutenção do poder de compra dos salários, ela alerta que os trabalhadores precisam ser razoáveis na hora de tentar recompor o que foi perdido com a inflação. ;Que seja palatável pelo menos. A inflação, para o assalariado, é uma coisa ruim, mas é preferível não ter tantos aumentos, com o salário indexado, e sim menos inflação.; Aumentar salário acima da inflação neste momento poderia significar mais consumo, devido à elevação do poder aquisitivo, e, no caso do funcionalismo, mais gastos públicos.

Cornélia Nogueira lembra que, na época da inflação alta, a população não tinha noção de valores e ficava impossibilitada de fazer qualquer tipo de planejamento de suas necessidades de consumo, de acordo com seus rendimentos e com o orçamento elaborado mensalmente. ;No meio do caminho, as coisas aumentavam, a escola mandava um bilhetinho para o cidadão pagar mais não sei quanto. Tudo aumentava. Ninguém tinha noção de valor, do que era caro ou barato.; Até pesquisar preços era muito difícil, pois as mudanças eram rápidas até em um mesmo estabelecimento, lembra.

A economista do Dieese concorda com a decisão do governo, que estuda uma forma de reduzir a indexação da economia. ;Os serviços estão indexados e a parte do salário, não. É uma bola de neve. Um indexa, o outro indexa. E isso aumenta tudo.;