O Banco Central garantiu que não vai abrir mão da principal arma contra a carestia: os aumentos dos juros básicos (Selic). Em audiência no Congresso, o presidente da autoridade monetária, Alexandre Tombini, deixou claro que outras medidas pontuais para conter o consumo continuarão a ser usadas para levar o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de volta ao centro da meta (4,5%) em 2012, mas negou que tenha desistido dos apertos na taxa. Ele evitou especular, mas os analistas dão como certo que a trajetória de alta vai continuar até o fim do ano, quando a Selic pode chegar a 13%. "Há um esforço articulado em várias frentes no combate à inflação", afirmou, diante de deputados e senadores.
O discurso foi endossado pela presidente Dilma Rousseff no Palácio do Planalto, durante encontro com o chefe de Estado da Alemanha, Christian Wulff. "Temos um compromisso de resistir às pressões inflacionárias, tanto as que vêm de fora como as do nosso próprio país", disse ela, ainda se recuperando de uma pneumonia. Apesar do tom tranquilizador e da perspectiva de arrefecimento no segundo semestre, o diagnóstico a curto prazo é ruim. O presidente do BC prevê que o IPCA de abril, que será divulgado hoje, fique em 0,80%, nível considerado por ele mesmo o dobro do tolerável num único mês.
A exemplo do que ocorria nos anos 1980, a inflação voltou a ser uma preocupação constante dos brasileiros e se transformou em dor de cabeça também para os parlamentares. Sentindo o efeito corrosivo da escala dos preços no próprio bolso e ouvindo reclamações das suas bases eleitorais, senadores e deputados se queixaram a Tombini de forma clara e direta. %u201CO senhor vai à feira?%u201D, questionou o deputado Rui Palmeira (PSDB-AL). "O senhor já viu o preço da gasolina"?
Tombini explicou que a inflação deste ano tem sido impulsionada por diversos fatores, principalmente por preço de commodities (produtos básicos com cotação internacional, como itens agrícolas e minérios) que, segundo os cálculos dele, subiram 78% em dólar e 56% em real de julho do ano passado até abril de 2011. O presidente do BC garantiu ainda aos parlamentares que a equipe econômica está empenhada ao máximo para aliviar o custo de vida.
Ele argumentou que o controle da inflação é compatível com o crescimento econômico, como ressaltou anteontem à noite o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, juntando-se à força-tarefa do governo contra a alta dos preços. "Muitos profetas do caos acham que o sucesso brasileiro, que conseguiu equilibrar desenvolvimento econômico com inclusão social, está ameaçado pela volta da inflação. O mesmo ocorreu em 2003, quando muita gente apostava no fracasso do Brasil e previa que a inflação, que alcançou 12,5% em 2002, continuaria a crescer", disse.
Contrariando o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que, na terça-feira, tinha dado a entender que uma quarentena para capital estrangeiro não estava descartada para controlar o câmbio, Tombini garantiu que essa hipótese "não está no radar". Nas previsões dele, o deficit em conta corrente deve cair para 2% do Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas do país) neste ano.