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Economia

Trem-bala pode custar até 45% mais que o previsto, segundo estudos

O custo total do trem de alta velocidade poderá chegar a R$ 50 bilhões, se forem levados em conta imprevistos que podem acontecer durante a obra, como mudanças no traçado por causa de exigências ambientais ou aumento de gastos com perfuração de túneis, por exemplo. Segundo o consultor legislativo do Senado Marcos José Mendes, estudos apontam que o custo desse tipo de obra pode ser, em média, 45% maior que o planejado antes de o empreendimento começar.

O projeto do trem-bala, que deverá ligar as cidades de Campinas, São Paulo e Rio de Janeiro, foi debatido hoje (12) durante audiência pública na Comissão de Infraestrutura do Senado. A obra está orçada em R$ 33 bilhões, dos quais R$ 20 bilhões serão financiados por meio de uma linha de crédito especial do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e R$ 3 bilhões virão do governo para desapropriações e compensações ambientais. Mais R$ 10 bilhões serão aportados pelos próprios investidores.

Mendes, que produziu artigos técnicos sobre o assunto para o Centro de Estudos da Consultoria do Senado, garante que os gastos governamentais com a obra devem ficar entre R$ 15 e R$ 35 bilhões. Segundo ele, com R$ 20 bilhões, é possível construir uma usina hidrelétrica como Belo Monte, 8,3 mil quilômetros (km) de ferrovias de cargas, ligar 12 milhões de moradias à rede de esgoto ou dobrar a extensão do metrô de uma cidade como São Paulo. ;Vale a pena gastar todo esse dinheiro publico construindo o trem-bala?;, perguntou. Ele disse também que o projeto conflita com a política econômica e social do governo federal.

Para o consultor de transportes Joseph Barat, o governo deve investir mais em transporte ferroviário de cargas, em vez de priorizar o de passageiros. ;Os congestionamentos na Via Dutra (que liga as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro) não são causados por ônibus ou carros, mas por caminhões, que podem ser substituídos por trens de cargas;. Ele sugeriu que seja implantado gradualmente no país um sistema de transporte misto de cargas e de passageiros.

O diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Bernardo Figueiredo, defendeu o projeto do trem-bala. Ele lembrou que essa tecnologia é a mais adequada para atender à demanda de passageiros no eixo Rio-São Paulo, porque é um serviço seguro, confiável, previsível e de baixo custo. ;O Brasil tem que ousar, não podemos ficar a reboque da tecnologia. O trem-bala deverá transportar 32 milhões de passageiros no primeiro ano e chegará a 100 milhões depois de 40 anos.

O superintendente da área de Projetos do BNDES, Henrique Amarante da Costa Pinto, também apresentou argumentos a favor da construção do trem de alta velocidade. Segundo ele, o potencial de passageiros entre Rio de Janeiro e São Paulo é superior ao de outros locais que já adotaram o trem-bala. Pinto também lembrou que os aeroportos e as rodovias da região já estão saturados e que a construção de trens de média velocidade não atenderia às necessidades da população, que está cada vez mais migrando do transporte rodoviário para o aéreo.

Na última semana, a ANTT adiou pela segunda vez o leilão que vai definir os responsáveis pela construção do trem-bala. A licitação, prevista inicialmente para dezembro, já tinha sido adiada para abril, mas só vai ocorrer no dia 29 de julho.

O plenário do Senado deve votar hoje ou amanhã (13) a Medida Provisória 511/10, que autoriza o empréstimo de até R$ 20 bilhões do BNDES ao consórcio que vai construir o trem-bala. O projeto também prevê a criação da Empresa de Transporte Ferroviário de Alta Velocidade S/A, vinculada ao Ministério dos Transportes. A MP tranca a pauta de votação da Casa e precisa ser votada até sexta-feira (15), já que seu prazo de validade acaba no domingo (17).