Dois meses depois do apagão que atingiu oito dos nove estados do Nordeste, os órgãos públicos responsáveis pela fiscalização ainda não chegaram a uma conclusão sobre o incidente que deixou mais de 45 milhões de pessoas no escuro por cerca de oito horas. E o tratamento prioritário do problema, ordenado na época pela presidente Dilma Rousseff, parece ter sido ignorado.
O Relatório de Análise de Perturbação (RAP), fundamental para que sejam feitas as investigações, chegou à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) em 29 de março. A agência informou, por meio da assessoria de imprensa, que a área responsável não tem previsão para a conclusão das investigações. O diretor-geral da Aneel, Nelson Hubner, disse ontem pela manhã ao Correio que não havia sido notificado do recebimento da versão final do RAP. Questionado sobre o assunto, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, também evitou fazer qualquer comentário. Na época do apagão, o ministro chegou a ser chamado pela presidente da República ao Palácio do Planalto para dar explicações sobre o ocorrido.
;A presidente Dilma disse que não ia permitir falta de transparência e queria encontrar os culpados. Mas acho que será preciso um novo apagão para que punições ocorram;, disse o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires. O RAP foi elaborado pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), que, em plena era digital, informou ter enviado o documento à Aneel há duas semanas por correio. Na opinião de Pires, o envio do documento sigiloso por carta é uma ;irresponsabilidade;. ;Era preciso ter levado pessoalmente ou por outro tipo de mecanismo;, criticou.
O presidente da Associação Brasileira de Grandes Consumidores de Energia (Abrace), Paulo Pedrosa, destacou que há uma grande expectativa para a conclusão das investigações. ;O descontentamento é enorme. Muitas empresas tiveram prejuízos e é preciso saber as causas e os culpados, principalmente, para evitar que uma nova pane ocorra;, afirmou. As perdas na região superam R$ 100 milhões, segundo um levantamento preliminar feito pela Abrace. ;Algumas indústrias levaram quase um mês para retomar totalmente as atividades;, disse Pedrosa.
Na avaliação de Pires, o maior problema do setor elétrico é a falta de manutenção na rede de transmissão. ;Toda grande cidade tem prédios com geradores a diesel, o que revela a falta de confiabilidade do sistema. Isso é reflexo da falta de poder do Estado e de uma agência reguladora mais forte e que realmente defenda o consumidor;, completou.
Fim da greve em Santo Antônio
Os operários da Usina Hidrelétrica de Santo Antônio, em Rondônia, depois de duas semanas de paralisação, retomaram os trabalhos ontem. A decisão foi tomada em uma assembleia realizada no canteiro de obras. De acordo com a Concessionária Santo Antônio Energia, cerca de 15 mil trabalhadores tinham interrompido as atividades. A companhia concedeu reajuste de 5%, aumento no valor da cesta básica e folga para visitas às famílias dos trabalhadores de outros estados a cada 90 dias. A empresa também se comprometeu a pagar passagem de avião dos operários. Na semana passada, a Justiça do Trabalho de Rondônia determinou a aplicação de multas ao Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção Civil do Estado de Rondônia (Sticcero) no valor de R$ 200 mil para cada dia de greve dos operários na usina.