Jornal Correio Braziliense

Economia

Governo dá sinais de que deixará dólar cair para conter inflação

A queda de braço entre o governo e o mercado contra a depreciação do dólar caminha para um fim lacônico. Analistas garantiram, citando fontes próximas ao governo, que a presidente Dilma permitirá que a moeda americana seja cotada abaixo de R$ 1,65 ; piso mínimo a partir do qual eram tomadas medidas para elevar o preço. Após várias intervenções para conter a valorização do real, ontem o Banco Central fez mais três leilões de compra no mercado à vista e um de swap cambial reverso (aquisição no mercado futuro), oferecendo 30 mil contratos. Conseguiu vender só 24 mil. Apesar do esforço, a divisa americana despencou 1,17%, para R$ 1,612 ; menor cotação desde 21 de agosto de 2008.

;Só resta ao governo pagar para ver. Sabe que não adianta bater de frente. O mercado sempre vence, porque leva em conta a conjuntura. No momento, por exemplo, considera todas as pressões da Ásia e da África e calcula que na Europa os principais problemas ainda vão começar a acontecer;, analisou Marcelo Coutinho, sócio-presidente da YouTrade. Em seus cálculos, o real valorizou-se 2,5% em 2011 e mais de 40% desde 2009.

Ele também chamou a atenção para o fato de que, apenas na última semana, o BC atuou 18 vezes ; foram 12 leilões à vista, um a termo e cinco swaps. Mesmo assim, no período, o dólar caiu quase 2,9%. Um especialista em câmbio que preferiu o anonimato disse que, embora não tenha sinalizado qual o novo piso para o real, o governo acertou ao deixar a moeda brasileira forte, para inibir a alta da inflação e os preços do petróleo ; e também para não prejudicar setores como a indústria manufatureira.

Desempenho
No mercado acionário, o Ibovespa, índice que mede a lucratividade das ações mais negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo (BM), subiu pelo quarto leilão consecutivo, ao encerrar em alta de 0,99%, aos 69.268 pontos, embalado pelo otimismo com a recuperação da economia americana e pela queda no índice de desemprego na Europa. A bolsa brasileira acompanhou também a de Nova York, onde o índice Dow Jones subiu 0,46% e chegou ao maior nível desde junho de 2008. Para Marcelo Coutinho, não fosse o impacto negativo causado pela saída do presidente da Vale, Roger Agnelli, o Ibovespa poderia ter tido resultado ainda melhor.

No mercado interno, os bancos ; principais oponentes do governo na luta a favor da valorização do real ; também contribuíram para a alta do Ibovespa. Estudo da Consultoria Economática que analisa o desempenho do setor financeiro, no mês de março, comprovou que, entre 24 papéis pesquisados, na América Latina e nos Estados Unidos, quatro, dos cinco primeiros, são brasileiros. O destaque é a ação ordinária do Bradesco, com alta de 9,82% no período. Esse desempenho, de acordo com o levantamento, é o maior desde julho de 2010, quando o papel subiu 21,97%.

Perdas zeradas
O pregão de ontem, para muitos investidores, foi um dos mais importantes do ano. Analistas também comemoraram, porque o Ibovespa ; índice mais importante da bolsa paulista ; conseguiu romper a barreira dos 69 mil pontos após mais de dois meses de desempenho fraco. Agora, estima-se que é tecnicamente possível, a curtíssimo prazo, chegar aos 70 mil. Com o resultado, praticamente foram zerados os prejuízos em 2011 (leve perda de 0,05%).