LISBOA - O Brasil pode comprar uma parte da dívida soberana portuguesa para ajudar a economia da antiga potência colonial a superar a grave crise financeira, afirmou a presidente Dilma Rousseff em declarações à imprensa lusitana.
"Estamos estudando a melhor maneira de participar na recuperação da economia portuguesa. Nossas equipes têm um diálogo permanente e fluente sobre esta questão", declarou Dilma Rousseff em uma entrevista ao jornal Diário Econômico.
"Uma das possibilidades é a compra de uma parte da dívida soberana portuguesa", destacou a presidente, que também mencionou a análise de "outras alternativas", como "a compra antecipada de títulos brasileiros atualmente nas mãos do governo português".
Dilma Rousseff já havia destacado na terça-feira que o Brasil faria todo o possível para ajudar Portugal, mas também lembrou que no país existem "regras muito rígidas sobre a utilização das reservas".
A presidente do Brasil disse ainda que, até o momento, Portugal não apresentou nenhum pedido formal de ajuda.
Portugal é considerado o próximo candidato a uma ajuda financeira internacional similar à já recebida por Grécia e Irlanda, outros dois membros da Eurozona.
Os prazos financeiros espreitam o governo lusitano, que deve pagar 4,2 bilhões de euros de dívida em 15 de abril e outros 4,9 bilhões em 15 de junho.
Para certos analistas, Portugal pode tentar superar os vencimentos com empréstimos de outros países sob a forma de compras diretas de sua dívida.
A China, que segundo informações da imprensa nunca desmentidas já teria comprado mais de um bilhão de euros da dívida portuguesa em janeiro, afirmou na semana passada estar disposta a "reforçar os laços" com Portugal.
Na quarta-feira da semana passada, o primeiro-ministro português José Sócrates renunciou depois que o Parlamento rejeitou um novo plano de austeridade, que pretendia garantir a redução do déficit público a 2% do PIB até 2013 e evitar o recurso a uma ajuda financeira internacional.
Na entrevista ao Diário Econômico, Dilma Rousseff afirmou ainda que muitas empresas brasileiras estão "interessadas no mercado português" e que deseja uma cooperação maior entre os dois países, especialmente nos "setores de energia, turismo, aeronáutica, telecomunicações e meios de comunicação".
"Portugal é um país muito importante para o Brasil. É nossa porta de entrada para a Europa", destacou.
Dilma Roussef está em Coimbra (região central de Portugal) para assistir nesta quarta-feira a uma cerimônia em homenagem a seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, na célebre universidade desta cidade.
Mas a presidente encurtou a visita a Portugal ao tomar conhecimento da morte de José Alencar, vice-presidente brasileiro durante os dois mandatos de Lula, e cancelou assim as reuniões previstas para a tarde com o colega português, Aníbal Cavaco Silva, e com o primeiro-ministro demissionário José Sócrates.