Jornal Correio Braziliense

Economia

BC e mercado estão divididos sobre política econômica para juros

O Banco Central dá início amanhã, com encerramento na quarta-feira, à segunda reunião do ano do Comitê de Política Monetária (Copom) dividido entre o recrudescimento da inflação e os claros sinais de desaceleração da economia.

Se fosse apenas olhar para os índices de preços ao consumidor, que se mantêm acima de 6% no acumulado de 12 meses, não haveria dúvidas entre os integrantes do BC de que o melhor caminho seria acelerar o processo de alta da taxa básica de juros (Selic). Ou seja, cravar um aumento de 0,75 ponto percentual ante o 0,5 ponto sacramentado em janeiro passado, quando a Selic passou de 10,75% para 11,25% ao ano.

Mas indicadores coletados diariamente pela instituição mostram que o ritmo da atividade, mesmo ainda refletindo parte do fôlego de 2010, período em que o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu entre 7,5% e 8%, está perdendo força e, pesar a mão agora nos juros poderia intensificar o desaquecimento além do desejado. Nesse contexto, seria importante manter o passo no aperto monetário e anunciar mais uma elevação de 0,5 ponto na taxa básica.

O conflito do BC se reflete no mercado. Para o economista-chefe da Prosper Corretora, Eduardo Velho, o Copom deveria elevar a Selic em 0,75 ponto. No seu entender, depois de fraquejar no controle da inflação no fim do ano passado, a autoridade monetária precisa reforçar a sua credibilidade. Se continuar titubeando no combate aos reajustes disseminados de preços pode perder a guerra contra as expectativas do mercado, que vêm se deteriorando há quatro meses.

Economista-chefe do Espírito Santo Investment Bank, Jankiel Santos também vê um aumento mais forte dos juros como a melhor alternativa para reverter rapidamente as pressões inflacionárias. Mas, a seu ver, o Copom será mais flexível. ;Não é uma questão de teimosia, mas sim de levar em conta os sinais apresentados pelo BC desde a reunião de janeiro. Àquela altura, o banco deixou bastante clara a sua crença na convergência da inflação para o centro da meta, de 4,5%;, disse.

Segundo Santos, o BC está apostando em dois fatores para ser mais moderado. O primeiro: o corte de R$ 50 bilhões no Orçamento da União deste ano, arrocho que, mais à frente, pode ser acrescido em R$ 30 bilhões, como mostrou o Correio Braziliense na edição de sábado. O segundo: a desaceleração do crédito, devido às medidas macroprudenciais anunciadas no fim de 2010. Somente em janeiro, os juros médios dos empréstimos e financiamentos subiram mais de três pontos percentuais.

Para o economista-chefe do Bradesco, Octavio de Barros, a desaceleração da economia será mais forte do que se imagina e, por isso, na sua opinião, o BC não precisa avançar o sinal. Deve manter o ritmo de aumento dos juros em 0,5 ponto. Segundo Maristella Ansanelli, economista-chefe do Banco Fibra, a partir de março, a inflação deverá apresentar taxas mais moderadas, mas ainda será cedo para se falar em arrefecimento nos reajustes de preços. O melhor, acredita ela, seria a alta de 0,75 ponto da Selic. Levando em conta, porém, os sinais emitidos pelo BC, o aumento será mesmo de 0,5 ponto.

Não é uma questão de teimosia, mas sim de levar em conta os sinais apresentados desde a reunião de janeiro. Àquela altura, o BC deixou clara a sua crença na convergência da inflação para o centro da meta, de 4,5%;

Jankiel Santos,
economista-chefe do Espírito Santo Investment Bank