Jornal Correio Braziliense

Economia

BRICS rejeitam propostas de países desenvolvidos do G20

PARIS - Os países BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) rejeitaram nesta sexta-feira (18/2) a adoção de indicadores propostos pelo G20 para medir desequilíbrios econômicos mundiais, assim como a ideia de regras globais de controle de fluxos de capitais, indicou em Paris o ministro da Fazenda, Guido Mantega, após uma reunião deste grupo.

Ao final do encontro de ministros das Finanças do G20, realizado em um hotel de Paris, o ministro da Fazenda evidenciou a hesitação dos países emergentes em aplicar algumas exigências das potências industrializadas.

"Concordamos em não tomar a conta-corrente como indicador, mas sim a conta de bens e serviços (...). Não estamos de acordo em estabelecer um limite para a acumulação de reservas", disse Mantega ao se referir a dois dos pontos aos quais os BRICS se opõem.

O saldo de conta-corrente e as reservas cambiais são dois dos indicadores que alguns países do G20 querem levar em conta para medir a saúde econômica de cada país na hora de enfrentar os atuais desequilíbrios mundiais.

Segundo uma fonte alemã, é "provável" que o G20 chegue no sábado, no fim de sua reunião de dois dias sob a presidência francesa, a um acordo para levar em conta esses dois critérios mais a taxa de câmbio real, o déficit e dívida pública e a poupança privada.

O ministro russo das Finanças, Dimitri Pankin, confirmou a hostilidade dos BRICS contra a questão das reservas cambiais.

"Nossa principal preocupação é se os Estados Unidos e o Reino Unido insistirem em colocar o montante das reservas entre os indicadores", disse.

"Será possível encontrar um consenso no seio do G20? Essa é a questão. Saberemos amanhã", completou Pankin.

Mas os BRICS não apenas são contrários a certos indicadores, mas também contra o estabelecimento de "regras e limites" mundiais sobre os fluxos de capitais, afirmou Mantega.

"Existe a proposta de fazer uma regulamentação sobre o fluxo de capitais. Nós somos contrários a isso. Há uma posição predominante no grupo", afirmou Mantega, ao se referir a uma ideia da presidência francesa.

"Não concordamos com estabelecer regras e limites, porque cada país tem sua particularidade", disse Mantega.

A presidência francesa do G20 quer estabelecer um "código de boa conduta" para regular os fluxos mundiais de capitais, disparados pelas atraentes taxas de juros dos países emergentes e as políticas monetárias expansionistas dos desenvolvidos.

Os BRICS estão preocupados com esses fluxos, que poderão provocar um reaquecimento de suas economias, mas prefeririam, no momento, que cada país tenha liberdade para controlá-los.

"Cada lugar tem seu tipo de capital, buscando seu tipo de ativo", explicou Mantega ao justificar a posição contrária a regras mundiais sobre o tema.