A inflação não dará trégua ao bolso do consumidor até o meio do ano. Levantamento do governo afirma que os preços irão desacelerar para taxas mais toleráveis, próximas de 0,37% ao mês, apenas no segundo semestre. A presidente Dilma Rousseff, preocupada com os efeitos negativos da carestia sobre a economia e sua própria imagem, fez o alerta ao Banco Central, que assumiu o compromisso de combater a escalada dos preços apertando a taxa básica de juros (Selic) e lançando mão de novas medidas prudenciais, se necessárias.
A expectativa do governo, e também dos analistas do mercado, é de que a partir de junho se façam mais fortes os efeitos das medidas prudenciais, do arrocho monetário e do corte no Orçamento da União. Especialistas mais otimistas avaliam ainda que, no meio do ano, as commodities ; produtos básicos cotados internacionalmente que têm influência direta no preço dos alimentos ; também vão parar de subir ou, ao menos, vão entrar em ritmo de valorização mais moderado. A equipe econômica conta ainda com a revisão tarifária de energia em São Paulo para amenizar o peso no custo de vida.
Impactos
A despeito desse cenário, o centro da meta, de 4,5% para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), está totalmente descartado para 2011. Elson Teles, economista-chefe da Máxima Asset Management, pondera que o BC não tem o que fazer para segurar a inflação deste ano. A seu ver, apesar de compromissos assumidos, qualquer medida que a autoridade monetária vier a adotar terá, agora, apenas efeito residual. Os impactos efetivos sobre o custo de vida só ocorrerão no ano que vem.
;Essas medidas de contenção de demanda vão surtir efeito, porém afetarão mais 2012. Nossa projeção é que, em agosto, mesmo com algum arrefecimento, a inflação anualizada fique entre 6,7% e 6,8%;, afirmou o economista. Mesmo sem perspectiva de alcançar o centro da meta, o BC deve atuar fortemente no sentido de conter a demanda e garantir, ao menos para 2011, inflação mais moderada.
Além da escalada das commodities ; que subiu 17,92% em 12 meses até janeiro pelo índice Commodity Research Bureau (CRB) e disparou 33,55% pelo indicador do Banco Central 33,55% no mesmo período ;, a autoridade monetária tem se preocupado também com os efeitos da inflação de 2010, impactada pela alta dos alimentos como a carne. ;Até maio, ainda vai haver muita influência dos preços administrados;, disse Flávio Serrano, economista do Espírito Santo Investiment Bank. ;Os IGPs (índices gerais de preços) fecharam o ano passado em patamar elevado e têm influência sobre várias tarifas públicas e contratos de 2011;, explicou.
Serviços
Passados os efeitos da inflação do ano passado e excluídas variações das commodities, que dependem diretamente do mercado internacional, os alimentos no Brasil tendem a dar um alívio para o consumidor a partir de junho. A expectativa é de que o choque de oferta de alguns produtos, como os legumes, açúcar e feijão, comece a perder força a partir de abril, quando as safras devem voltar à normalidade.
Os preços dos serviços, portanto, ainda preocupam, e a inflação desse grupo deve se manter próxima do que foi no ano passado, em cerca de 8%. Caso os impactos das medidas prudenciais realmente potencializem os efeitos da política monetária, analistas avaliam que esse segmento da economia pode arrefecer mais fortemente no fim do ano. ;É o grupo que responde de maneira mais defasada às estratégias do BC. Nele (segmento de serviços), as medidas para segurar o consumo sempre impactam por último;, avaliou Teles. ;No geral, as ações da autoridade monetária, neste ano, evitaram que houvesse um estrago maior na economia.;