A Casa Branca prevê que a economia dos Estados Unidos recuperará totalmente as perdas decorrentes da última recessão até 2017. A estimativa foi divulgada ontem, dia em que o governo do presidente Barack Obama anunciou um programa para redução do deficit do país em US$ 1,1 trilhão nos próximos 10 anos.
As previsões da Casa Branca, no entanto, costumam ser otimistas. O governo Obama vê o crescimento acelerando em 2012 e continuando acima da média até 2017. Por outro lado, pesquisas com analistas de instituições privadas mostram crescimento moderado nos próximos anos e muitos economistas acreditam em cicatrizes permanentes da crise.
O documento divulgado ontem mostra aumento do deficit do país em 2011, que fechou o ano em US$ 1,645 trilhão, mas prevê queda a US$ 1,101 trilhão em 2012. Essa tendência de redução de gastos reduziria a proporção do deficit em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) a 3,2% em 2015, ante 10,9% este ano.
;O único meio de investir em nosso futuro é fazer com que nosso Estado viva de acordo com os meios; de que dispõe, declarou Obama. ;Faremos isto eliminando, principalmente, o desperdício e cortando todos os gastos não indispensáveis;, acrescentou. Dois terços das economias propostas por Obama vêm de cortes de gastos estatais e reduções estimadas nos juros com o declínio do deficit. O resto vem de receitas maiores, com o vencimento das provisões do pacto de impostos trabalhistas e com a arrecadação maior devido à expansão econômica mais forte.
Como resultado, o Orçamento de Obama cumpre a promessa de cortar o deficit pela metade até o fim de seu mandato
atual, em janeiro de 2013, comparado ao nível de quando ele assumiu em 2009. Para ajudar a atingir essa meta, Obama planeja congelar gastos discricionários, excluindo segurança, por cinco anos, reduzindo o deficit em US$ 400 bilhões ao longo de 10 anos.
A proposta orçamentária de Obama para o ano fiscal de 2012 ainda passará por negociações com a oposição. ;Embora nós possamos ter algumas diferenças a princípio, nós estamos ansiosos para trabalhar com os republicanos e cortar os gastos, reduzir nosso deficit;, disse uma autoridade sênior do governo Obama a jornalistas.
Os republicanos já revelaram propostas muito mais rígidas para conter a dívida norte-americana, que deve atingir o limite legal nos próximos meses. O dia 4 de março é o prazo para parlamentares chegarem a um acordo sobre a questão.
Novo imposto norte-americano
O governo americano apresentará um novo projeto de lei instaurando um imposto aos maiores bancos e instituições financeiras nos Estados Unidos. Batizado de "contribuição pela responsabilidade na crise financeira", esse imposto afetará as instituições bancárias americanas cujos ativos consolidados superarem os US$ 50 bilhões, indica o Greenbook, documento do Tesouro que detalha as mudanças previstas para as receitas do Estado. O imposto seria calculado sobre uma parte do passivo dos bancos, e seria marcado com uma taxa única de cerca de 0,075%.
França leva polêmica ao G-20
Gabriel Caprioli
A França deve utilizar a primeira reunião ministerial do G-20 em 2011, marcada para sábado, para defender a criação de uma espécie de termômetro econômico que seria capaz de identificar futuros desajustes nos mercados globais. A ministra francesa das Finanças, Christine Lagarde, afirmou ontem que a proposta inclui um conjunto de indicadores aos países do bloco ;mais amplo do que a única medida de balanço de pagamentos;, sem detalhar quais índices serão utilizados.
O mecanismo de alerta sugerido pelo país, que detém este ano a presidência rotativa do grupo, faz parte das discussões em torno da reformulação do sistema monetário internacional. Segundo a ministra, a gestão francesa do bloco pretende ;apoiar a transição rumo à internacionalização de novas moedas;, avançando do atual sistema ; baseado no dólar ; para um organizado em torno de outras divisas.
O tema coloca os principais países envolvidos na guerra cambial em lados opostos e, para analistas, o encontro tem poucas chances de ser conclusivo. ;Ainda que exista uma motivação legítima de tentar criar um sistema para detectar bolhas, o assunto é polêmico e mesmo no âmbito acadêmico foi esgotado. Não se sabe nem ao certo como identificar bolhas;, comentou o estrategista-chefe do Banco West LB, Roberto Padovani. Para ele, a intenção de criar indicadores atende um segundo objetivo, de curto prazo, que consiste em pressionar os países emergentes. ;Estou cético em relação à criação de um índice comum, mas é uma forma de, imediatamente, criar algum tipo de constrangimento, principalmente para a China;, completou.
O Brasil vai copresidir, ao lado da Alemanha, um dos subgrupos que discutirá a reformulação do sistema monetário, com foco no fluxo de capitais. Em relação a uma possível resistência dos Estados Unidos a uma reforma que diminua o poder do dólar, a ministra francesa afirmou que ;está convencida de que os norte-americanos estão interessados; em alguns aspectos da discussão, como forma de melhorar o equilíbrio entre sua própria divisa e as demais moedas.
Divisão
A reação de cada um dos países envolvidos deve variar de acordo com a relação de indicadores propostos pela França. Para a China, por exemplo, índices atrelados ao câmbio ou ao excesso de saldos comerciais positivos devem desfavorecer o país. Para o Brasil, uma sinalização em relação ao alto nível dos juros será prejudicial.
China é 2; no mundo
A China superou o Japão como segunda potência econômica mundial em 2010. O Produto Interno Bruto (PIB) do Japão ficou em US$ 5,4742 trilhões, segundo os dados divulgados em Tóquio, enquanto o da China alcançou US$ 5,8786 trilhões. Com este desempenho, a economia chinesa ficou atrás apenas do resultado dos Estados Unidos, posição que a economia nipônica ocupava desde 1968.
Segundo estimativas do Banco Mundial (Bird) e de várias instituições financeiras, a China pode inclusive destronar os americanos até 2025. ;Como nação vizinha, saudamos a rápida progressão da economia chinesa;, declarou Kaoru Yosano, ministro japonês de Política Econômica e Orçamentária. ;Isto pode ser o sustento de um desenvolvimento da economia regional, ou seja, a Ásia Oriental e do Sudeste;, completou, antes de afirmar que deseja melhorar as relações entre Japão e China no campo econômico.
A China registra há vários anos um índice de crescimento próximo ou superior a 10%. Em 2010, chegou a 10,3%. O PIB chinês superava o do Japão desde o segundo trimestre, mas a economia nipônica registrou uma vantagem sólida no primeiro e, portanto, não era certo que a China teria capacidade de superar o vizinho no conjunto de 2010, o que só foi confirmado ontem.
A economia do Japão, profundamente afetada pela recessão econômica mundial em 2008 e 2009, recuperou-se em 2010, com um crescimento de 3,9%, mas o resultado não permitiu manter a segunda posição diante de uma China em pleno auge.
A valorização do iene desde o verão (Hemisfério Norte, inverno no Brasil) de 2010 prejudicou no decorrer do ano as empresas japonesas que trabalham com o mercado externo. Além disso, as autoridades do Japão suspenderam ou reduziram os programas de apoio ao consumo, provocando um encolhimento do PIB no fim do ano.