Ao anunciar a contenção de R$ 50 bilhões do Orçamento da União deste ano, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, voltou a admitir que a inflação está alta, mas garantiu que o governo continuará perseguindo o centro da meta estabelecida para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), de 4,5%. Nos últimos 12 meses encerrados em janeiro, o indicador acumulou avanço de 5,99%. Mas, para o ministro, não há possibilidade de que o avanço médio de preços ultrapasse o teto de 6,5% fixado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
[SAIBAMAIS];O sistema de metas não diz que precisamos cumprir o centro dela. Diz que se deve buscar os 4,5%. No caso, porém, de choques de preços ou de eventos atípicos, há uma margem de dois pontos percentuais para cima e para baixo. Vamos continuar perseguindo a meta e não vamos permitir que extrapole os limites estabelecidos;, afirmou Mantega
O chefe da equipe econômica aliviou o peso do controle da inflação dos ombros do Banco Central ; órgão que tem, como função principal, cuidar da manutenção do poder de compra da moeda ; e chamou ao restante do governo a tarefa de esfriar o avanço do custo de vida. Mantega lembrou-se de medidas que já foram tomadas no fim do ano passado, como o aumento de recolhimentos compulsórios dos bancos, as mudanças na concessão de crédito para compra de automóveis e o avanço da taxa básica Selic, feita na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).
Agora, segundo Mantega, o governo como um todo está dando uma ajuda ao BC por meio do corte de gastos. ;A redução vai se refletir no sentido de que os gastos do Estado serão menores e diminuirão a pressão sobre a demanda agregada;, afirmou. Ele não descartou uma nova rodada de medidas para esfriar a economia e lembrou que o arrocho no orçamento dará ao BC a possibilidade de, ;no momento em que for oportuno;, reduzir os juros básicos.
Parte da culpa pela inflação foi atribuída pelo ministro à aceleração de preços de commodities, principalmente as agrícolas (produtos com cotação internacional), efeito que não pode ser controlado. ;Não estamos parados olhando o que está acontecendo, mas uma parte dessa inflação não depende de nossas ações. Nada que fizermos mudará o preço do petróleo que é negociado na Bolsa de Nova York ou do trigo, que é estipulado nos mercados externos;, assinalou.
Pressão funcionou
Jorge Freitas
Depois da pressão feita pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, para que o Ministério da Agricultura fosse mais ágil na venda dos estoques reguladores de grão para conter a disparada da inflação, o ministro Wagner Rossi, da Agricultura, assegurou, ontem, que o abastecimento de comida no mercado interno será assegurado com leilões dos estoques de milho, arroz e feijão.
Rossi reconheceu as críticas de Mantega, sobretudo no caso do milho, que serve de base para a engorda de gado e de frango. Com o preço do grão em disparada, o valor das carnes foi nas alturas, jogando a inflação para um patamar perigoso. Segundo o ministro da Agricultura, o atraso nos leilões dos estoques de milho realizados pela Companhia Nacional de Abastecimento(Conab) decorreu de fatores burocráticos. A oferta dos produtos tem de ser autorizada por portaria interministerial e cada Pasta aguarda o parecer de sua assessoria jurídica para autorizar a operação.
;Toda a vez que o ministro Mantega fizer uma observação, vamos atendê-lo. Temos um excelente relacionamento e nossas equipes trabalham em conjunto. O ministro da Fazenda tem uma visão mais abrangente do que a minha, cuja função é defender o produtor brasileiro;, afirmou Rossi. Ele ressaltou que, conforme o quinto levantamento realizado pela Conab, em janeiro, o Brasil terá uma safra recorde de grãos em 2010/2011.
A produção de grãos no período deverá chegar a 153 milhões de toneladas, com aumento de 2,56% ( 3,8 milhões de toneladas) do que na safra anterior. O resultado, disse Rossi, garante o abastecimento interno e a exportação do excedente. Mas ele admitiu: ;A pressão de preços decorrente do aumento da demanda do Oriente, dos países emergentes e da América Latina é exacerbada. Os estoques públicos estão se deprimindo, atingindo limites que não são os mais adequados;.
Também Fernando Abritta, economista do Departamento de Indústria do IBGE, disse que setor agroindustrial brasileiro apresenta boas condições, com perspectiva de safra favorável, preços das commodities em alta; e aumento de áreas a serem colhidas. Além disso, as condições de financiamento de máquinas e equipamentos também são melhores do que em anos anteriores.