Jornal Correio Braziliense

Economia

BTG compra o PanAmericano

O empresário Silvio Santos fechou ontem a venda do PanAmericano, por R$ 450 milhões, para o BTG Pactual, que tem à frente o banqueiro André Esteves. Com o acordo, o BTG Pactual passa a ter 37,64% da instituição de varejo, com 51% das ações ordinárias e 21,97% das preferenciais. O negócio foi anunciado ontem à noite, após o apresentador ter ido, no fim da tarde, à sede da instituição compradora. Na data da conclusão, será realizada uma Oferta Pública de Aquisição de Ações (OPA) aos minoritários nas mesmas condições oferecidas ao acionista controlador -; ao preço de R$ 4,89 por ação.

;A aquisição representará a criação de uma quarta linha de negócios para o Banco BTG Pactual no Brasil. O PanAmericano será uma plataforma independente de distribuição de produtos e crédito para o varejo;, declarou Esteves. O banco de varejo de Silvio Santos tem fortes operações de crédito voltado às classes C e D ; em modalidades como o consignado e o financiamento de veículos e imóveis, áreas nas quais o BTG Pactual tem interesse em se expandir.

Além disso, com o negócio, o banco presidido por Esteves estabelecerá forte parceria com a Caixa, que já tem significativa fatia de 36,56% do capital total do PanAmericano (49% do votante), depois que investiu R$ 740 milhões no negócio no ano passado. Com o acordo de ontem, a Caixa manterá a posição acionária, adquirirá direitos creditórios e aplicará em depósitos interfinanceiros do PanAmericano. ;A Caixa, com sua capilaridade e longa tradição no varejo, e o BTG Pactual são parceiros complementares. Essa associação trará consigo um potencial enorme de novos negócios, além de criação e distribuição de produtos;, acrescentou.

A presidente da Caixa, Maria Fernanda Ramos Coelho, declarou que a decisão foi ;fundamentada na evidência de complementariedade e potencial de negócios comuns entre as duas instituições;. Segundo fontes envolvidas na negociação, Maria Fernanda continuará à frente do Conselho de Administração do PanAmericano.

Novo presidente

O sócio do BTG Pactual José Luiz Acar Pedro será o novo CEO do PanAmericano. ;Investiremos em sistemas, processos e aprimoramento da eficiência, além de criação de novos produtos e suporte aos clientes, franqueados, promotores de venda e na intensificação da nossa parceria com a Caixa;, explicou Acar. ;O PanAmericano poderá praticar taxas de financiamento mais competitivas, beneficiando os seus clientes, dada a esperada redução no custo de captação do banco em função desta transação;, complementou.

Após a assinatura do acordo, Silvio Santos afirmou que, agora, não venderá seu patrimônio. ;O SBT não está mais à venda, a Jequiti não está mais à venda, o Baú não está mais à venda;, declarou, satisfeito, o apresentador de TV.

Fontes envolvidas na negociação informaram que o Fundo Garantidor de Créditos aceitou dar um empréstimo adicional de R$ 1,5 bilhão ao PanAmericano. Em novembro do ano passado, o fundo já havia emprestado R$ 2,5 bilhões. Sem os aportes, o banco quebraria. Esteves estaria esperando apenas esta liberação para fechar o negócio.

Estima-se que o rombo do PanAmericano alcance R$ 4 bilhões e não os R$ 2,5 bilhões estimados anteriormente.

O patrimônio de todo o Grupo BTG é de aproximadamente R$ 7,3 bilhões e o do banco , de R$ 5,6 bilhões. O BTG realizaria um aporte, cujo valor ainda não foi anunciado, para concluir a compra do PanAmericano. Diante da expectativa pelo fechamento do negócio, os investidores ficaram inseguros e os papéis do PanAmericano despencaram na Bolsa de Valores de São Paulo. Apenas ontem, as ações ON (com direito a voto) caíram 2,96%, baixando para R$ 4,26. Em sete dias, as ações se dissolveram em 14,46%. Quem apostou no banco nos últimos 365 dias está amargando uma perda de 60,89%, muito mais da metade do patrimônio investido.

Estabilidade

O Fundo Garantidor de Créditos (FGC) foi criado em agosto de 1995 e autorizado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) a funcionar como entidade privada, sem fins lucrativos, em defesa do pequeno poupador. O objetivo é garantir a estabilidade do sistema financeiro e evitar crises sistêmicas. A administração do FGC é eleita pelos próprios associados (bancos) e os recursos são provenientes de contribuições. Não envolve recursos públicos. O patrimônio atualé da ordem de R$ 28 bilhões. Banco do Brasil, Bradesco e Itaú Unibanco são os principais credores do Banco PanAmericano.

Bradesco lucra R$ 10 bi


O Bradesco, segundo maior banco privado do país, apresentou, em 2010, lucro líquido contábil de R$ 10,022 bilhões. O montante representa crescimento de 25,1%, na comparação como o mesmo período de 2009, de acordo com balanço divulgado ontem. No quarto trimestre do ano passado, a instituição financeira registrou lucro líquido de R$ 2,987 bilhões, alta de 18,2% ante ganho de R$ 2,181 bilhões do trimestre anterior. O resultado dos três últimos meses do ano foi apoiado pelo crescimento de 20,2% na carteira de crédito, que representou R$ 274,2 bilhões.

A boa notícia é que, segundo o banco, a inadimplência chegou ao menor patamar ;dos oito últimos trimestres;. As operações vencidas há mais de 90 dias encerraram o último trimestre de 2010 em 3,6%, levemente abaixo dos 3,8% do terceiro trimestre. Em consequência, a despesa com provisão para devedores duvidosos (PDD) caiu 14,8%, nesta mesma comparação. Apenas para pessoas físicas, os empréstimos somaram R$ 89,6 bilhões, crescimento de 20,7%, enquanto, para empresas, a alta foi de 12%, representando montante de R$ 155,1 bilhões.

Na avaliação do presidente executivo do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi, as medidas austeras do governo para conter o consumo, evitar reflexos na inflação e o crescimento acelerado além da capacidade, têm o objetivo de combater sérios problemas na economia e devem se antecipar a eles. No entanto, garantiu que ;não há risco de bolha nos mercados de crédito;, muito menos perigo nos empréstimos imobiliários. ;O crédito imobiliário é resultado da oferta, e a demanda é concreta;, disse.

O lucro líquido de R$ 10,022 bilhões no ano de 2010 é o terceiro maior da historia dos bancos de capital aberto brasileiros, segundo estudos da Consultoria Economatica. Abaixo apenas do registrado pelo Banco de Brasil, em 2009, com R$ 10,148 bilhões, seguido pelo Itaú Unibanco, com R$ 10,067 bilhões no mesmo ano. Até o momento, o Bradesco tem quatro dos 10 maiores lucros da história da contabilidade bancária brasileira. Itaú Unibanco e BB têm três, cada, nos cálculos da consultoria.

Sem interesse

O presidente executivo do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi, negou os boatos e descartou qualquer interesse no banco PanAmericano, do grupo Silvio Santos, cujos problemas financeiros já ultrapassam os R$ 4 bilhões. ;Não fomos no passado e nem no presente um banco interessado em aquisição do PanAmericano. Até porque disputarmos mercados com a Caixa (sócia do PanAmericano). De fato, não seria uma sociedade com ajuste muito normal, por competirmos no varejo de igual para igual;, justificou.

A relação com o banco do apresentador se resume, ressaltou Trabuco, à compra de carteiras de crédito, operação não afetada pelo escândalo contábil. Ele não quis revelar os montantes, mas foi categórico ao afirmar que o valor das carteiras do PanAmericano está ;muito abaixo de 1%; do total das operações de crédito do Bradesco, de R$ 274,2 bilhões em dezembro de 2010. (VB)