A Ford anunciou que iniciará, a partir de segunda-feira, o procedimento de recall de 300.860 veículos modelos EcoSport, Fiesta RoCam Hatch e Sedan, anos 2007 a 2011, para reparos no mecanismo de trava de segurança das portas traseiras. A fabricante constatou que há o risco de as entradas abrirem, apesar de a tranca estar acionada, ocasionando acidentes. Proprietários de EcoSports anos 2007/2008/2009 e chassis 500004 a 999999, e Fiesta RoCam 2008/2009 com chassis 107522 a 423122 devem comparecer às concessionárias para inspeção e, se necessário, substituição da peça defeituosa.
Para ser atendido, é preciso fazer um agendamento prévio. Já os donos de EcoSports ano 2011 com chassis 575295 a 598749 devem verificar a necessidade de corrigir informações do manual do carro acerca das instruções de acionamento do item. Os proprietários devem entrar em contato com o Centro de Atendimento Ford (CAF), pelo telefone 0800 703 3673. Segundo o Código de Defesa do Consumidor (CDC), o cliente pode escolher qualquer concessionária da montadora e ser atendido de graça.
Esse é o primeiro recall convocado em 2011 e o segundo da Ford em menos de dois meses. Em 10 de dezembro do ano passado, a fabricante havia chamado os donos da Ranger anos 2007 e 2008 para corrigir uma falha no cabo do freio de mão, que pode se romper abruptamente. Não foi a primeira vez em que foi detectado erro de fabricação no EcoSport e no Fiesta. Em 2004, os modelos também tiveram de ser reparados. Na ocasião, o objetivo foi substituir o fluido dos freios, após constatação de que o item estava contaminado e poderia causar perda da capacidade de frenagem.
Campanhas
Nos últimos três anos, a quantidade de convocações de carros e motos vendidos com defeito de fabricação cresceu sucessivamente. Em 2008, foram 27 campanhas com 468,2 mil veículos envolvidos e seis campanhas com 297,2 mil motos. No ano seguinte, 36 chamados convocaram 461,3 mil automóveis e oito fizeram o mesmo com 268,1 mil motos. O recorde é do ano passado, quando o número de carros com defeito ultrapassou a marca de 1 milhão, em 51 campanhas, além de outras 12 que chamaram 341,6 mil motos.
O reparo de veículos convocados pode ser feito a qualquer momento, mesmo que o chamado tenha ocorrido há muitos anos. As fabricantes têm a obrigação de oferecer o serviço gratuitamente. Dados do Ministério das Cidades apontam que entre 30% e 40% do total de proprietários de carros defeituosos não atendem ao recall. Para combater esse problema, há cerca de um mês, foi publicada no Diário Oficial da União uma portaria conjunta entre a Secretaria de Direito Econômico (SDE), do Ministério da Justiça, e o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) que define prazos e obrigações das montadoras no processo de comunicação das campanhas para o Sistema de Aviso de Riscos.
Informação obrigatória
A portaria que regulamenta o novo sistema de recall vai começar a valer 90 dias após a publicação, que ocorreu em 17 de dezembro. Ela obrigará as montadoras a repassarem ao Denatran informações sobre as campanhas, com as listas dos chassis dos veículos envolvidos. Serão encaminhados também, em até 60 dias do início de cada chamado, relatórios eletrônicos de atendimentos. A informação referente ao recall será processada pelo Denatran e incluída no Registro Nacional de Veículos Automotores (Renavam).
As convocações não atendidas após um ano vão constar no Certificado de Registro e Licenciamento de Veículo. Além disso, os fornecedores ficarão obrigados a entregar ao consumidor documento que comprove o comparecimento ao recall, com detalhes do reparo e dados do atendimento. O Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC), do Ministério da Justiça, lançou um guia sobre direitos do comprador de veículos. A publicação pode ser acessada no site do ministério (www.mj.gov.br). (GHB)
MEMÓRIA
Recorde em 2000
O primeiro recall de 2011 é também o quarto maior já realizado no Brasil. Conforme dados do Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC), do Ministério da Justiça, a mais abrangente convocação da história nacional foi feita pela General Motors, com 1.052.737 unidades dos modelos Corsa e Tigra, em dezembro de 2000. A segunda colocada no ranking foi feita também pela GM, com o Corsa sedã e picape, envolvendo 375,7 mil carros, em julho de 2002. Já o terceiro foi da Fiat, de modelos Palio, Palio Weekend, Strada e Siena, envolvendo 320 mil veículos, em outubro de 2000.
O crescente número de modelos com defeito de fabricação tem atraído a atenção da sociedade nos últimos anos. Especialistas apontam como causa para o problema uma combinação perversa entre a preocupação em diminuir custos e a pressa em promover lançamentos. As estatísticas mostram que para cada 1% de redução no valor do automóvel, há um aumento de 2% nas vendas. Além disso, como essas indústrias produzem em grande escala, qualquer inovação que signifique economia pode ter resultado impactante. Se uma fábrica produz 1 milhão de veículos e um engenheiro propuser a retirada de um parafuso que custa R$ 1 por automóvel, no fim a economia será de R$ 1 milhão.
A pressão por redução de despesa, a introdução de inovações e a agilidade no lançamento compõem uma equação difícil de ser gerenciada e tem impacto significativo no valor da marca de uma empresa. Estudos mostram que depois da terceira convocação os clientes começam a perder a confiança na marca. (GHB)