A invasão chinesa que se anuncia no mercado de automóveis brasileiro ainda está só na ameaça e longe de representar o potencial da indústria automotiva da China. No ano passado, as seis marcas presentes no país (Chery, Hafei, Chana, Effa, Lifan e Jimbei) venderam 13.843 veículos, entre automóveis e comerciais leves, o que representa 0,41% do total de 3,3 milhões emplacados no Brasil. O número é tão pequeno que fica abaixo do volume registrado para o Volkswagen Sedã, o simpático Fusca usado, que somou 16.061 emplacamentos em 2010.
Em 2009, quando cinco marcas chinesas comercializavam no Brasil, foram vendidas apenas 2.441 unidades, o que representou 0,08% das pouco mais de 3 milhões de unidades vendidas. Na comparação entre 2010 com o ano anterior os chineses ganharam terreno, com um crescimento de quase 500%, mas os números ainda são ínfimos, principalmente quando a referência é o tamanho dessa indústria na China. No ano passado, o país asiático produziu mais de 18 milhões de veículos. Se considerado somente os veículos de passeio, a marca foi de 13,76 milhões, superior aos 11,6 milhões vendidos nos Estados Unidos, líder histórico da produção automotiva.
Trocando em miúdos: ao decidir comprar um carro mais brasileiros preferiram um Fusquinha do que as inúmeras opções chinesas. Vale ressaltar que o sedã da VW deixou de ser fabricado pela primeira vez em 1986 e chegou a ser ;ressuscitado; em 1994, por iniciativa do então presidente Itamar Franco. Mas a segunda fase durou somente até 1996 e, no total, contabilizando os veículos produzidos desde 1959, circulam pelo país cerca de 3 milhões de unidades. Por isso, entre os veículos usados o Fusca é o décimo no ranking de emplacamento da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave).
Sem o kwow-how adquirido pelos anos de rodagem do sedã da VW, os chineses prometem investir pesado para crescer no mercado brasileiro. A aposta da Chery é a importação do QQ, veículo compacto que começa a ser vendido em março com preço inicial de R$ 22,9 mil, o que fará do chinês o mais barato do mercado nacional. De acordo com o executivo da Chery, Luis Cury, a expectativa é vender 1 mil unidades do carro por mês, o que elevará as vendas da marca no país para 30 mil veículos neste ano. Se confirmadas as previsões, o crescimento será imenso (328%), pois em 2010 a Chery emplacou 7 mil unidades.
A marca tem cinco concessionárias em Minas Gerais, sendo duas em Belo Horizonte e irá inaugurar mais três este ano no estado, em Montes Claros, Pouso Alegre e Poços de Caldas. No total, são 74 concessionárias no país e previsão de inauguração de 30 no território nacional até o fim de 2011.
A importância de aumentar as vendas e ganhar espaço no mercado cresce com o investimento anunciado para construção de uma fábrica em Jacareí (SP). O investimento será de US$ 400 milhões em 1 milhão de metros quadrados. A primeira fase do projeto, que terá investimento de US$ 130 milhões vai instalar uma unidade com capacidade de produção anual de 50 mil veículos, prevista para começar a operar em 2013. A segunda fase, com investimento de US$ 270 milhões, elevará a produção anual para 150 mil carros. Na fase inicial serão produzidos os modelos S12 (A1) e A13 (Fulwin 2).
Novidades
Outra chinesa que entra no mercado nacional com planos ambiciosos é a JAC, que inaugurará 46 revendas no Brasil em 18 de março. A operação brasileira da JAC é comandada pelo Grupo SHC, do empresário Sérgio Habib, que foi presidente da Citro;n e é o maior concessionário da marca francesa no país, além de representar as luxuosas Aston Martin e Jaguar. Só neste ano a JAC pretende comercializar 35 mil veículos, quase três vezes mais que todas as seis marcas chinesas venderam juntas no ano passado.
A JAC vai oferecer, inicialmente, no mercado brasileiro o compacto J3, nas configurações hatch e sedã. Depois virá a minivan J6 e, por fim, o médio J5. Entre todos os modelos, o mais barato custará R$ 37,5 mil e o mais caro, R$ 54,9 mil. Habib já anunciou que investirá US$ 200 milhões na operação de implantação da marca.
Outras marcas que chegam neste ano são a Chana Autos e a Haima, ambas operadas pelo grupo Districar, que já trabalha com a Chana (comerciais leves) e a coreana Ssangyong. A Chana Autos começará a vender três modelos: Alsvin, Benni e Benni Mini. Na opinião do gerente nacional de desenvolvimento de rede da Districar, Florino Gardete, o mercado de automóveis brasileiro é grande e tem espaço para os chineses.
"Niguém sabe precisar o tamanho. A economia está crescendo, existe o pré-sal, os eventos como Copa do Mundo e Olimpíadas, e nos próximos 10 anos o país crescerá em projeção geométrica;, acredita Gardete. A empresa investirá R$ 12 milhões na implantação da rede de concessionárias neste ano. De acordo com Gardete, a expectativa geral do mercado é de crescimento.