Jornal Correio Braziliense

Economia

Chuva encarece preços de alimentos em Minas

Tereza Rodrigues

O consumidor já sente no bolso consequências do excesso de chuvas ; o preço dos alimentos está elevado, e a previsão é de que só comecem a voltar à normalidade a partir de fevereiro. De acordo com a Central de Abastecimento do estado (Ceasaminas), as altas são sentidas principalmente nos hortifrutis, que, em média, nos 12 primeiros dias do ano, estão 8% mais caros em relação ao mesmo período do ano passado. Alguns itens, como o quiabo, têm variação de 108,3% frente a dezembro e 30% se comparado a janeiro de 2010.

Para o coordenador de informações de mercado da Ceasaminas, Ricardo Fernandes Martins, muita chuva é sempre sinônimo de alta nos preços de verduras e legumes. Neste ano, entretanto, os alimentos encareceram mais porque grande parte dos municípios produtores foi fortemente atingida por enchentes. ;Não acredito que vamos ter redução de preços ainda este mês, porque as estruturas de transporte também foram prejudicadas;, disse.

A alta no varejo reflete nas bancas dos sacolões e donas de casa reclamam do aumento dos preços. Na rede Varejão da Fartura, que tem sete lojas em Belo Horizonte, as tabelas estão sofrendo alterações praticamente todos os dias. Segundo o gerente da loja do Carlos Prates, Edson Fernandes, os consumidores deixam de comprar alguns itens e preferem escolher os produtos de acordo com os preços. O tomate, que no fim do ano passado era vendido por R$ 0,89, custa agora R$ 3,59. Outro exemplo é o do alface, que passou de R$ 0,89 para R$ 1,19. ;O quiabo hoje (ontem) está R$ 5,99. Tem gente deixando de preparar a tradicional combinação frango com quiabo porque está realmente caro;, diz.

Um dos maiores compradores de quiabo de Minas, o restaurante Maria das Tranças, vê a receita cair por causa da alta do legume. De acordo com o proprietário, Ricardo Rodrigues, são servidos cerca de 2 mil pratos de frango com quiabo por semana, mas o aumento do custo não pode ser repassado ao consumidor. ;Se eu modificar o preço do prato todo mês que chover muito e a produção baixar, perco freguês. Só que este ano está mais difícil segurar;, comenta.

O presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes em Minas Gerais (Abrasel-MG), Paulo Nonaka, diz que os proprietários dos estabelecimentos têm sofrido com o aumento dos preços. ;Quando não é um restaurante de comida típica, eles tendem a substituir os alimentos que estão mais caros, mas nem sempre isso é possível;, conta. De acordo com ele, a reclamação maior é relativa ao encarecimento da carne, que não é sazonal e tem demorado a voltar aos índices praticáveis pelas tabelas de preços do ano passado.

No restaurante Paladino, o cardápio é tradicionalmente modificado todo mês de fevereiro. Porém, neste ano, os novos preços, combinado a pratos preparados com itens mais em conta, já passa a valer nesta semana. O proprietário Marcelo Haddad explica que a baixa na margem de lucro estava comprometendo as finanças da casa. ;Nos self-services é possível priorizar os alimentos mais baratos, mas, no nosso caso, fomos praticamente obrigados a adiantar a modificação no cardápio;, explicou.
O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado pela Fundação Ipead/UFMG na semana passada indicou que a refeição fora de casa foi o item que mais puxou a alta geral do indicador em BH, com contribuição de 12,58%. Para o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, os preços devem continuar subindo neste início de ano impulsionados por itens na alimentação que pareciam estar se arrefecendo, como os hortifrutis e a carne bovina. ;Os consumidores não precisam mais esperar por acomodação nas altas. Se continuar chovendo, pode piorar. Essa possibilidade aumenta as expectativas para a próxima reunião do Copom. Essa questão vai, certamente, ter que ser colocada na mesa dos diretores do Banco Central;, comentou.

Na quinta-feira, o Procon Estadual apresentou a pesquisa de preços em açougues da capital e constatou aumento de 0,05% nos preços médios entre dezembro e janeiro, influenciados pelo aumento dos cortes suínos. Entre os bovinos, a picanha teve alta de 3,64%.