Não foi à toa que o governo de Dilma Rousseff agiu às pressas em sua primeira semana para tentar conter a supervalorização do real frente ao dólar. Dados do Banco Central mostram que, entre 3 e 7 de janeiro, foram despejados no Brasil US$ 4,1 bilhões ; US$ 819,8 milhões por dia ;, indicando que os investidores estão prontos para encarar qualquer medida restritiva no mercado de câmbio. Se tal ritmo for mantido, até o fim do mês terão entrado no país mais de US$ 13 bilhões, quantia próxima à de setembro de 2010, quando a capitalização da Petrobras levou o fluxo de capitais estrangeiros a seu nível recorde.
Diante dessa afronta, os ministros da Fazenda, Guido Mantega, e da Casa Civil, Antônio Palocci, entregaram a Dilma uma série de novas medidas a serem tomadas, caso as apostas contra a moeda norte-americana se mantenham ativas. A ordem da presidente é não hesitar na defesa da economia brasileira e da produção nacional, cujas exportações vêm perdendo competitividade no cenário internacional com o real forte.
O governo considera mais do que justo o Brasil adotar mecanismos para proteger a sua moeda da especulação originária da guerra cambial ; por isso, medidas mais radicais, como o controle de capitais, impondo prazos para a entrada e a saída de recursos do país (quarentena), estão no horizonte. Não há, porém, qualquer possibilidade de Dilma abrir mão do sistema de câmbio flutuante, que, com o regime de metas de inflação e o superavit primário (economia para o pagamento de juros da dívida pública), forma o tripé de sustentação da economia brasileira.
Todo o fluxo de dinheiro fez com que, a despeito dos esforços governamentais para conter a queda do dólar, a divisa continuasse a derreter. Ontem, a moeda encerrou os negócios cotada a R$ 1,677, com recuo de 0,59%. ;Essa queda e o ingresso expressivo de capital ocorrem em função de uma grande liquidez internacional;, explicou Rossano
Oltramari, analista-chefe da Corretora XP Investimento. ;Os Estados Unidos não param de imprimir dólares. As taxas de juros no exterior são muito baixas e, aqui, estão em um nível bem mais interessante. Isso atrai capital;, disse.
Ou seja, com os juros lá fora próximos de 1% ao ano, os investidores pegam empréstimos e aplicam o dinheiro no Brasil, onde a taxa básica (Selic) está em 10,75% ao ano. Mesmo pagando Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 6%, a diferença compensa ; e muito. Além disso, eles apostam na alta do real no mercado futuro (posições vendidas). Se o dólar cai, ganham duas vezes. Segundo Paulo Hegg, operador da Um Investimento, mesmo com o BC tendo determinado o recolhimento de compulsórios de até US$ 7 bilhões sobre as operações dos bancos no mercado futuro, pouca gente se assustou. ;Por isso, a tendência ainda é de desvalorização da moeda norte-americana;, argumentou.
De acordo com o BC, somente na conta financeira, a diferença entre tudo o que chegou ao país e o que saiu na primeira semana de janeiro ficou positiva em US$ 3,6 bilhões. ;Ainda veremos saldos bastante positivos nessa conta;, previu Hegg.