Enquanto o governo enfrenta dificuldade para conter o derretimento do dólar, um problemão para as exportações do país, as multinacionais com filiais no país estão fazendo a festa remetendo cifras bilionárias para casa. Com o real supervalorizado e a alta lucratividade dos negócios, as empresas aproveitam para comprar um volume maior de dólares e reequilibrar as contas das matrizes, que ainda sobre os efeitos da crise financeira mundial detonada em 2008. Pelas contas do Banco Central, as multis remeterão, em forma de lucros e dividendos, pelo menos US$ 33 bilhões neste ano ; 15% a mais do que em 2010.
O Brasil, a exemplo de outros países emergentes, tornou-se a tábua de salvação para várias multinacionais, um contraponto ao atoleiro no qual se meteram as economias da Europa, do Japão e dos Estados Unidos. Há casos em as filiais brasileiras já superaram, em termos de receitas e de lucros, as matrizes. Isso acontece em setores como o automobilístico e o financeiro. Em 2008, quando o mundo ruiu junto com a quebra do banco norte-americano Lehman Brothers, os ganhos das filiais brasileiras foram vitais para que muitas multis não fechassem o ano com prejuízo.
Para alguns especialistas, se as economias maduras continuarem em dificuldade ao longo de 2011, o que muitos não descartam, as estimativas do BC para as remessas de lucros podem ser superadas. Mesmo sem apostar em um número, analistas ponderam que as transferências para o exterior têm chance de chegar a maior cifra desde 1947, quando a autoridade monetária passou a levantar esses valores.
;Muitas das empresas estrangeiras estão aproveitando a situação econômica bastante positiva de suas filiais para usarem o Brasil como muleta;, afirmou Jankiel Santos, economista-chefe do Espírito Santo Investiment Bank. ;Lá fora, a situação não é das melhores. A ideia deles é retirar recursos de onde não cause prejuízo;, explicou. A estratégia tem sido adotada principalmente por Holanda, que, de janeiro a novembro do ano passado, levou US$ 4,2 bilhões do Brasil. Na sequência, a medida tem sido adotada por Estados Unidos (remessas de US$ 3,1 bilhões), Espanha (US$ 2,1 bilhões), França (US$ 1,4 bilhão) e Alemanha (US$ 1 bilhão).
Ranking
De acordo com dados do Banco Central, a indústria e o setor de serviços foram os que mais buscaram recursos no Brasil: o primeiro, US$ 10,9 bilhões até novembro de 2010; o segundo, US$ 7,6 bilhões. A indústria automotiva lidera o ranking das empresas que mais enviaram recursos para casa: US$ 3,4 bilhões até o penúltimo mês do ano passado. Para Volvo e Fiat, por exemplo, o país está entre os mercados mais rentáveis, senão o melhor para alguns segmentos de vendas. Em segundo lugar na lista dos que mais buscaram dinheiro no país figuram as instituições financeiras, com US$ 2,1 bilhões. A indústria química e de metalurgia também tem registrado envios expressivos ; juntas, mandaram US$ 2,6 bilhões para as matrizes.
Para Silvio Campos Neto, economista-chefe do Banco Schahin, toda essa movimentação de remessas representa um Brasil em crescimento e com forte potencial de rentabilidade. ;Existe falta de oportunidades no mundo e excesso de boas por aqui;, avaliou Neto. As nações que têm enxergado essas chances de ganho e apostado mais fortemente no Brasil, segundo dados do BC, têm sido Suíça, Estados Unidos, Holanda, Áustria e França ; sozinhas, aplicaram US$ 22,4 bilhões no país até novembro, o que representa 60% do investimento estrangeiro direto do período.
Bovespa avança 1,1%
A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) começou o dia de ontem no vermelho, mas recuperou o fôlego superou o patamar de 71 mil pontos. Impulsionada pelos dados de emprego nos Estados Unidos, onde foram gerados 297 mil postos em dezembro, a alta foi disseminada, com destaque para o setor siderúrgico. O Ibovespa, indicador das ações mais negociadas na bolsa, encerrou a quarta-feira com ganho de 1,1% aos 71.091 pontos ; o maior nível desde 11 de novembro de 2010. O ano, até agora, tem sido favorável para os investidores. Os três primeiros pregões acumulam valorização de 2,58%. No dia, movimento financeiro foi de R$ 7,251 bilhões.
De acordo com Jankiel Santos, economista-chefe do Espírito Santo Investiment Bank, a Bolsa tem exercido grande atratividade não só sobre os brasileiros, mas também entre os estrangeiros, que estão ávidos pelo Brasil. A maioria dos recursos que tem chegado ao país, segundo ele, vem em busca de ganhos e dos ;fundamentos sólidos das empresas brasileiras;. A alta registrada ontem na Bovespa se repetiu pelo mundo todo, principalmente nos países emergentes. As commodities (mercadorias com cotação internacional), que também iniciaram o dia em queda, mudaram de rumo no meio do pregão influenciadas pelos bons números do mercado de trabalho norte-americano.
Os papéis ordinários (ON), com direito a voto, da Companhia Siderúrgica Nacional (CNS) registraram os maiores ganhos do dia: 2,50%. Ainda entre as siderúrgicas, as ações ON da Usiminas avançaram 2,34% e as preferenciais (PN), 2,31%. Petrobras ON avançou 1,90% e a PN, 1,19%. A Vale também subiu. Os papéis ON deram um salto de 1,81% e os PN, 1,44%. ;Os investidores estão voltados para os dados de emprego. A Bolsa pode andar meio de lado até o fim da semana. Mas o humor é positivo;, disse Niroichi Nishi, gerente geral da Nikko Cordial Securities.
Produtos agrícolas voltam a subir
; As commodities (mercadorias com cotação internacional) iniciaram o pregão de ontem em baixa, mas depois voltaram a subir puxadas pelos dados de emprego nos Estados Unidos. O desempenho refletiu ainda a continuidade do processo de valorização desses produtos negociados em bolsa. Segundo o Banco Central, em 2010 houve uma escalada nos preços das commodities. O índice CRB, o mais usado para observar a valorização dessas mercadorias, registrou alta de 17,22%. De três grupos de itens avaliados pelo BC, os agropecuários computaram a maior valorização: 45,74% durante o ano passado.